Uma Mulher Exemplar, ou Mulher Que Segue à Frente, nos entrega uma história de amizade bonita, entretanto a direção e o roteiro pouco empolgam ao entregar o desfecho da tensão no embate de terras entre os povos indígenas e o governo americano.
O início do filme Uma Mulher Exemplar (2017) Catherine Weldon (Jessica Chastain) nos apresenta às obras do pintor George Catlin (artista que tinha como especialidade pintar retratos de nativos norte-americanos), ao mesmo tempo ela nos narra suas experiências ao contemplar tais obras, destacando a liberdade contida mesmo dentro da pintura. Tal liberdade usufruída por ela somente após a morte do marido.
Passado o seu luto, Weldon encontra consolo e liberdade através do seu ofício, a pintura. Sentindo a falta de uma representação artística do retrato do grande chefe Touro Sentado (Michael Greyeyes), ela se põe em viagem para encontrar-se com o seu modelo vivo para pintar o retrato do chefe da tribo Sioux. Assim inicia a história de Uma Mulher Exemplar, obra cinematográfica conduzida pela diretora Susanna White.
A inocência de Weldon é posta em cheque já no trem rumo à Reserva de Standing Rock, quando ela é praticamente jogada contra à parede pelo Coronel Silas Grove (Sam Rockwell) quando este desconfia e a acusa de ser da Associação Nacional de Defesa dos Índios e que tem o objetivo de ir à Standing Rock para promover oposição ao Tratado de Loteamento.
Fica ainda mais óbvio que ela não é bem-vinda à reserva e que também seja uma ameaça aos soldados, inimigos dos índios, quando a sua carta enviada para o Touro Sentado foi queimada pelo agente James McLaughlin (Ciarán Hind).
Assim que Weldon conhece Touro Sentado, o relacionamento dos dois tende fortemente ao formato romantizado, parece certo um possível beijo entre o nativo e a mulher branca, mas o que vemos é a construção de um relacionamento pautado no no conhecimento e no respeito entre ambos. Aqui merece destaque as atuações de Jessica Chastain e Michael Greyeyes, os atores estão fortemente apoiados em seus personagens e os conduzem muito bem.
Aos poucos a personagem de Chastain vai jogando luz à sua ignorância quanto à tensão política e à situação de uma possível nova guerra entre nativos e soldados, logo ela se posiciona conta o Tratado de Loteamento, o que a expõe perante àqueles que no início desconfiava do motivo da sua visita à Standing Rock.
Ressalto aqui a beleza natural capturada pela direção de fotografia do inglês Mike Eley, as silhuetas negras em contraste com o colorido radiante do céu no horizonte cria um hiato de paz em meio ao clima que cheira conflito e uma certa tristeza. Há uma cena em que Weldon e Touro Sentado estão conversando sobre o destino deste e ao fundo, sobre as montanhas, o céu relampeja como um anúncio dos espíritos à guerra e ao voo da águia.
Uma Mulher Exemplar acerta e erra, infelizmente falha no roteiro e na forma de criar o clima de tensão nos encontros dos nativos com os soldados, o que torna as cenas monótonas no quesito ação.
É ansiosa e despreparada a maneira como Catherine Weldon vai ao encontro de Touro Sentado, praticamente às cegas, o que na vida real esse encontro tinha o conhecimento de ambas devido as frequentes comunicações por cartas. O romance é um quesito inserido pela diretora com excessos, a tensão gerada no decorrer da trama perde todo o tesão no desfecho.
NOTA: 
Trailer
Pôster
Curiosidade sobre Uma Mulher Exemplar
- O filme dá a entender que Caroline e Touro Sentado não tinham nenhuma ligação antes de sua chegada a Standing Rock, o que não é correto. Eles começaram a se corresponder por volta de 1888, depois que Touro Sentado esteve em Washington, discutindo longamente os preços justos das terras de Dakota e os mapas dos planos do governo para reduzir o tamanho das reservas das tribos;
- O filme afirma que Caroline Weldon era viúva, o que não é exato. Ela era casada com Bernhard Claudius Schlatter e deixou o marido por outro homem, com quem teve um filho. Segundo consta, ela levou o filho para o assentamento Sioux para conhecer Touro Sentado e viver entre os nativos americanos. Ela acabou se divorciando em 1883;
- Em 1887, a Lei Dawes foi aprovada, e os residentes do Território de Dakota tentaram pressionar o povo Sioux, que vivia nas terras que eles queriam ocupar, a se mudar para uma reserva. Quando Susanna Faesch soube que Touro Sentado, líder dos Hunkpapa Lakota Sioux, se opunha ao plano, ela começou a escrever cartas para ele. Em 1889, Susanna, sendo mãe solteira divorciada de um filho ilegítimo, uma pária social e legalmente incapaz de se casar novamente, assumiu uma nova identidade como Caroline (Catherine) Weldon e se mudou com seu filho para a Reserva Standing Rock para se tornar secretária/representante de Sitting Bull. Ela começou a tentar organizar os partidários dele na área para se oporem à Lei Sioux. Os jornais locais difamaram Weldon como uma harpia que estava apaixonada por Touro Sentado e a chamaram de sua “índia branca”. Durante o período em que Weldon estava com Touro Sentado, um movimento religioso chamado Dança dos Fantasmas se espalhou pela área. Caroline advertiu Touro Sentado de que se aliar aos dançarinos fantasmas o transformaria em um alvo, mas ele a ignorou. Ela começou a advogar contra a dança, causando uma ruptura com Touro Sentado e, finalmente, deixou a reserva;
- Embora a morte de Touro Sentado não seja historicamente exata no filme, ela é retratada com o senso de muitos nativos americanos, que frequentemente afirmam que sua morte foi uma traição do governo dos EUA a um líder político;
- Weldon, nascida na Suíça, originalmente se chamava Susanna Faesch. Depois de se mudar para o Brooklyn, em Nova York, ela trocou o marido por um homem casado, com quem teve seu único filho. Depois que seu amante a abandonou e o divórcio com o marido foi finalizado, Susanna mudou seu nome para Caroline Weldon. Com seu filho, Christie, a reboque, ela chegou à Reserva Standing Rock em 1889, onde perseguiu seu sonho de viver entre os Sioux e lutar contra o governo dos EUA pelos direitos dos nativos americanos;
- O filme é baseado no livro de Eileen Pollack, “Woman Walking Ahead: In Search of Catherine Weldon and Sitting Bull”, um livro lançado em 2002;
- Há relatos de que Touro Sentado fez uma pequena fortuna com sua participação no Wild West Show, ganhando cerca de US$ 50 por semana (equivalente a US$ 1.364 em 2018) durante os quatro meses em que participou da turnê. Ele também negociava preços para autógrafos e fotos com ele. Vindo de uma proeminente família Lakota (seu pai era um líder rico), essas habilidades eram naturais para ele; ele também era uma espécie de filantropo, doando seus ganhos para seu povo. O filme faz referência a esses eventos, primeiro quando Touro Sentado faz um acordo com Caroline Weldon para obter seu retrato e, depois, quando ele a envia à cidade para obter suprimentos para seu povo, com o dinheiro que ela lhe pagou;
- Michael Greyeyes interpreta Touro Sentado, um dos mais famosos chefes nativos americanos do século XIX;
- O filme aponta para um dos eventos mais polêmicos em torno da morte de Touro Sentado: seu cavalo dançante. É relatado que Rico voltou para casa com ele do Wild West Show e foi treinado para dançar ao som de balas, e o fez durante o tiroteio que matou Touro Sentado. Diz-se também que a visão de Rico dançando em meio a tiros sem qualquer dano a ele, como se ele estivesse recomendando Touro Sentado ao mundo espiritual, levou mais e mais nativos americanos a se juntarem ao “Ghost Dance Movement” (Movimento de Dança Fantasma);
- O retrato de Touro Sentado, de Catherine Weldon, agora está pendurado no Museu da Sociedade Histórica do Estado em Bismarck, Dakota do Norte;
- Na verdade, a morte de Touro Sentado ocorreu um ano depois que Weldon deixou a reserva. Touro Sentado foi morto pelo governo por se recusar a encerrar as cerimônias da Dança dos Fantasma (Ghost Dance). Depois que o filho de Weldon faleceu, ela voltou para o Brooklyn como uma pária social, apenas para viver na pobreza e no isolamento antes de morrer tragicamente em um incêndio no apartamento;
- Sitting Bull (Touro Sentado) diz que viu o coronel Silas Groves na Batalha de Killdeer Mountain (1864). É confuso porque ele menciona neve, como Wounded Knee (1890), e isso aconteceu em julho. Mas o coronel Groves provavelmente também estaria em Wounded Knee duas semanas depois, após a morte de Touro Sentado;
- Retrata imprecisamente a morte de Touro Sentado.
Ficha técnica
Diretora: Susanna White.
Roteiro: Steven Knight.
Produtores: Rory Aitken, Andrea Calderwood, Peter Hampden, Marshall Herskovitz, Susan Kirr, James Joseph McDonald, Norman Merry, Erika Olde, Richard Solomon, Tanja Tawadjoh, Lisa Wolofsky e Edward Zwick.
Diretor de fotografia: Mike Eley.
Editor: Steven Rosenblum e Lucia Zucchetti.
Design de produção: Geoffrey Kirkland.
Figurino: Stephanie Collie.
Cabelo e maquiagem: Claudia Breckenridge, Daniel Casillas, Katie Douthit, Linda Dowds, Nicole Gabaldon, Stephanie Ingram, Catherine Lawrence, Jb Letuli, Marcy Morgan, Jolynn Nieto e Teresa Stone.
Música: George Fenton.
Elenco: Jessica Chastain, Louisa Krause, Boots Southerland, Chaske Spencer, Ciarán Hinds, Kindall Charters, Sam Rockwell, Jacob Browne, Luce Rains, Rod Rondeaux, Rulan Tangen, Michael Greyeyes, Monika Crowfoot, Debbie Black Lance, David Midthunder, Bill Camp, Lyle Sandoval, Rachel Singer, Ben Ziegler, Susan Conklin, Makayah Crowfoot, DezBaa’, Robert Mirabal, Ben Black Bear, Robert Moreno Sr., Willy RunsAbove, Andersen Kee, Cosme Duarte, Joleen Baughman, Richard Beal, Steve Comisar, Stephen Conn, Rachel de la Torre, Lyle DeRose, Andrea Good, David Hight, Rip Lowe, Michael Nouri, Tami Nichols Reilly, Mathieu Szymkowiak, Rodrigo Tactaquin, Brenda Wehle, Claire Weinstein, Gary Wellborn, David White, Matthew R. Williams e Denita Wolf.