No filme Relatos do Mundo, o diretor Paul Greengrass nos entrega um faroeste ao estilo road movie em que o clima árido é palco para uma história que economiza munição e que o drama cirúrgico nos atinge no coração através de uma relação que emociona pela comunicação falada (Tom Hanks) e pelo olhar expressivo (Helena Zengel).
Anos após o fim da Guerra de Secessão ( ou Guerra Civil dos Estados Unidos) o Capitão Jefferson Kyle Kidd (Tom Hanks) tira seu sustento por meio da leitura das manchetes de jornais para os cidadãos do Texas, em um desses trajetos a trabalho, ele encontra a garota alemã Johanna (Helena Zengel) perdida no caminho, a infeliz menina teve os pais assassinados e em seguida fora sequestrada pela tribo Kiowa, após passar parte da infância com os indígenas, ela fica órfã pela segunda vez. Agora com Johanna montada em sua carroça, Kidd tem a missão de levar a pobre Johanna para seus tios.
É nessa jornada que se inicia a construção de um relacionamento nada fácil em que haverá inúmeras barreiras tanto de comunicação quanto de confiança. Mesmo o Capitão Kidd não tendo ideia de como cuidar de uma criança, o laço que se dará entre os dois durante as várias aventuras que serão vividas no meio do caminho até Castroville, fará com que ambos consigam se comunicar por uma linguagem que não se escuta, mas que se sente: a linguagem do amor.
A direção de Greengrass nos deixa bem próximos aos protagonistas da história, ainda mais quando preenchida com a potencialidade e a delicadeza da trilha sonora de James Newton Howard, ao mesmo tempo em que a fotografia do polonês Dariusz Wolski pinta o plano de fundo dramático em quadros de luzes e contrastes de cores dignos de serem harmonizados com a honestidade interpretativa do experiente Tom Hanks em parceria com a jovem estrela Helena Zengel.
Apesar do gênero drama ser onipresente em toda trama – até nas histórias jornalísticas lidas pelo Capitão Kidd – o faroeste é honrado na tensa cena em que Kidd e Johanna estão na mira de três homens até o confronto sobre a montanha rochosa, embate esse que deixa a dupla ainda mais próxima de uma ligação digna de pai e filha.
Outra cena de destaque poético e de imensurável empatia transcendente, se vale quando ambos estão aprendendo o idioma um do outro, tendo pela frente um horizonte vasto em que a vida para ela é vista como um círculo – talvez pelo fato de voltar ao mesmo ponto -, exemplo de viver por duas vezes a cruel tragédia do assassinato dos pais biológico e dos “pais adotivos”. Já o veterano Kidd enxerga a vida como uma linha reta, linear.
A visita de Kidd ao túmulo onde a esposa está sepultada, cria nele um vazio que logo é preenchido pela existência de Johanna, o que logo o faz disparar para resgatar a criança das amarras de seus tios, e juntos – com as raízes de ambos profundamente entrelaçadas, ligadas por um sentimento, agora real, de pai e filha – eles vão, um ao lado do outro, ler e contar histórias para além das fronteiras do Texas, seguindo em linha reta.
NOTA:
Trailer
Pôster
Curiosidades sobre Relatos do Mundo
Paul Greengrass disse em entrevista ao New York Times em 30/12/2020 como este filme “é o primeiro filme que fiz com um ator mirim no centro” e ele achou que seria muito difícil escalar o papel de Johanna, mas quando viu a audição de Helena Zengel, disse que ela “era a única pessoa para quem eu realmente tinha que olhar” e que “foi a decisão mais fácil do filme”;
A atriz alemã Helena Zengel, de 12 anos, chamou a atenção do diretor Paul Greengrass pela primeira vez depois que ele viu sua atuação dinâmica no aclamado filme alemão “Transtorno Explosivo” (2019) no Festival Internacional de Cinema de Berlim (Internationale Filmfestspiele Berlin, IFB, também conhecido como Berlinale)de 2019. Greengrass ficou particularmente impressionado com a expressividade de seus olhos, pois isso era exatamente o que ele precisava para o papel de Johanna, que teria diálogo mínimo em muitas de suas cenas. Helena passou a participar de castings em sua cidade natal, Berlim, e depois em Londres, onde se encontrou formalmente com o produtor e diretor;
Filme de estreia em inglês da atriz alemã Helena Zengel;
Mesmo depois de conseguir o papel de Johanna neste filme, a atriz alemã Helena Zengel ainda não sabia quem era Tom Hanks até o início das filmagens e ela estava no trailer de maquiagem quando Tom entrou e se apresentou. Depois disso, a dupla se deu incrivelmente bem e se tornou tão amiga ao longo da produção que continuaram a se corresponder após o término do filme;
Um dos poucos filmes que mostram o efeito do recuo sobre o empilhamento de moedas em um cartucho de espingarda. Um projétil de latão de 3.5″ pode conter aproximadamente 16 moedas, quase cinquenta por cento a mais do que o peso de um projétil padrão. O recuo é uma função do peso do projétil e dos gases descarregados, de modo que um projétil mais pesado produz um recuo notavelmente maior. Kidd é visivelmente jogado para trás e Johanna quase cai de pé com o recuo;
Helena Zengel disse que nunca tinha ouvido falar de Tom Hanks antes de ser escalada para o papel, que “acho que já tinha visto “O Código Da Vinci” (2006), mas não sabia quem ele era. Pensei que fosse apenas um ator qualquer”, de acordo com um artigo do New York Times em 30/12/2020;
A pré-produção durou seis semanas no Novo México, incluindo três semanas de treinamento na língua e nos costumes Kiowa para a novata Helena Zengel. No entanto, uma habilidade que Helena não precisou dominar foi a de andar a cavalo, pois ela já fazia isso desde os quatro anos de idade;
Baseado no romance homônimo de 2016, de Paulette Jiles;
Originalmente, a 20th Century Fox faria esse filme por meio de seu selo Fox 2000, mas depois que a Walt Disney Company fechou a compra do estúdio de cinema em março de 2019, a Fox 2000 foi retirada pela Disney e só continuaria com os filmes produzidos pela Fox que já estivessem em produção. Posteriormente, a Universal Studios comprou os direitos de filmagem desse projeto;
Este foi o primeiro filme de faroeste do diretor britânico Paul Greengrass, um projeto de sonho que ele sempre desejou realizar. Foi também o primeiro western do produtor Gregory Goodman, que colaborou com Greengrass em muitos de seus filmes anteriores. A produção provou ser um grande desafio para os dois, pois queriam fazer um faroeste que ficasse lado a lado com os melhores;
Ajustado pela inflação, o preço do ingresso de 1870, “dez centavos por pessoa”, seria um pouco mais de US$ 2,07 em 2021;
Eleito um dos dez melhores filmes de 2020 pelo National Board of Review;
Este é o primeiro filme de faroeste completo de Tom Hanks. Ele interpretou o personagem ocidental deslocado Sherriff Woody em “Toy Story” (1995) e suas sequências;
Marca o segundo longa-metragem de Tom Hanks com o diretor britânico Paul Greengrass, sendo o primeiro “Capitão Phillips” (2013);
Em novembro de 2020, a Netflix comprou os direitos de distribuição internacional (excluindo os Estados Unidos) do filme;
O capitão Kidd nunca chama Johanna pelo nome de batismo Kiowa, “Cicada”;
Johanna desenha três marcas de mãos e um sinal de raio no cavalo para contar a “história” dos três inimigos mortos por uma arma de fogo;
O capitão Kidd faz sua leitura de Dallas no que parece ser uma sala de reuniões maçônica;
Tom Hanks e Mare Winningham estrelaram juntos anteriormente em “Uma Dupla Quase Perfeita” (1989);
Wapping, na zona leste de Londres, abriga o antigo escritório do jornal “News of the World”, de Rupert Murdoch, e um pub chamado Captain Kidd, que leva o nome do pirata escocês que foi executado ali em 1701;
Tom Gliatto, da revista “People”, considerou-o o quinto melhor filme do ano;
Primeira colaboração em longa-metragem de Tom Hanks e seu filho Truman Hanks;
Quando Kidd encontra a papelada de Johanna, declarando que ela tinha família no Texas, Kidd afirma que há muitos “alemães” por lá. A ironia é que a atriz mirim Helena Zengel também é alemã;
Tom Hanks também interpretou um editor/impressor de jornal em “The Post: A Guerra Secreta” (2017);
O elenco do filme inclui dois vencedores do Oscar: Tom Hanks e Ray McKinnon; e uma indicada ao Oscar: Mare Winningham;
Tom Hanks e Ray McKinnon apareceram anteriormente em “Apollo 13: Do Desastre ao Triunfo” (1995);
Segunda colaboração entre Tom Hanks e Paul Greengrass após “Capitão Phillips” (2013);
Em entrevista à rádio “Fresh Air”, Paul Greengrass disse que este é o primeiro filme que fez com um final feliz e edificante, algo que buscou depois de dirigir “22 de Julho” (2018), filme sobre ataques terroristas históricos.
Ficha técnica
Diretor: Paul Greengrass.
Roteiro: Paul Greengrass, Luke Davies e Paulette Jiles.
Produtores: Emily Evans-Thirlwell, Gary Goetzman, Gregory Goodman, Eric Heffron, Amy Lord, Gail Mutrux, Tore Schmidt e Steve Shareshian.
Diretor de fotografia: Dariusz Wolski.
Editor: William Goldenberg.
Design de produção: David Crank.
Figurino: Mark Bridges.
Cabelo e maquiagem: Stephen Bettles, Jean Ann Black, Janessa Bouldin, Drew Burrell, Siobhan Carmody, Sheila Eden, Grace Esquibel, K-Bobby, Aleka Kastelic, Marissa Lafayette, Janine Maloney, Cathrine A. Marcotte, Bonnie Masoner, Shannon McChristy, Ken Niederbaumer, Emerald Ortega, Karen Romero, Kelvin R. Trahan, Sheila Trujillo e Nichole Miller.
Música: James Newton Howard.
Elenco: Tom Hanks, Helena Zengel, Tom Astor, Travis Johnson, Andy Kastelic, Ray McKinnon, Mare Winningham, Jeffrey Ware, Chris Bylsma, Justin Tade, Darrin Giossi, Brenden Wedner, Elizabeth Marvel, Michael Angelo Covino, Clay James, Cash Lilley, Stafford Douglas, Jared Berry, Gabriel Ebert, Fred Hechinger, Clint Obenchain, Thomas Francis Murphy, Truman Hanks, Neil Sandilands, Winsome Brown, Bill Camp, Michael Toby Sanchez, Shawn Howell, Alexander Alayon Jr., Augusta Allen-Jones, Charles Ash, Gabe Baca, Francheska Bardacke, Steve Boyles, Michelle Campbell, Cynthia Casaus, Julian Cavett, Wanna Choy, Rachel Daly, Dorothy White Horse Duluane, Lorena Fernández, Christopher Hagen, David Hight, Stephanie Hill, Ivan Lee Holmes, Chukwudi Iwuji, Benjamin Jimerson-Phillips, Bob Knowlton, James LaPrelle, Tristan Manyhorses, Martin Palmer, Francisco Peramos, David Phyfer, Randy Ritsema, Aaron Rogers, J. Nathan Simmons, William Sterchi, Michael E. Stogner, Cheo Tapia e Mario Telles.
O novo filme produzido pela Netflix, The Old Guard, tem direção de Gina Prince-Bythewood e é uma adaptação da aclamada história em quadrinho homônima criada…
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