Filme "Os Últimos Passos de Um Homem" (1995), diretor Tim Robbins.

Resenha do Filme Os Últimos Passos de Um Homem (1995, Tim Robbins)

No filme Os Últimos Passos de Um Homem, a pena de morte praticada pelo Estado pode ser interpretada como uma metáfora à condenação executada por Pôncio Pilatos à Jesus Cristo, por meio da crucificação.


A freira Helen Prejean e o assassino condenado à morte, Matthew Poncelet, são os personagens principais do filme “Os Últimos Passos de um Homem”, de 1995, dirigido pelo diretor Tim Robbins. Preso, no corredor da morte e nenhum advogado disposto a ajudá-lo, Poncelet envia uma carta de ajuda para a irmã Prejean, ela aceita defende-lo e ser sua conselheira espiritual.

É divino assistir todo o sacrifício apoiado na fé e no amor da irmã Helen Prejean pelo seu semelhante, por mais que este encontra-se afundando na areia movediça do pecado mortal e dominado por um crescente sentimento de ódio e raiva acumulados em um coração petrificado.

Espanta ver a atuação sincera de Susan Sarandon, impressiona mais ainda quando ela contracena com Sean Penn, o ator encontra-se dominado pelo personagem, de uma forma incrível Penn o tem nas mão com exímio conhecimento interpretativo, assim como sua colega de trabalho que despensa adjetivos eloquentes ao seu talento quanto a este papel.

Irmã Helen Prejean e Matthew Poncelet conversando.
Irmã Helen Prejean e Matthew Poncelet conversando em um dos vários encontros dos dois na prisão.

A maneira amorosa que a irmã Prejean lapida o coração de pedra de Poncelet faz com que há a esperança nas trevas que assolam a alma. Ela o questiona, e o cobra, sobre a prática da leitura da Bíblia e das pérolas que podem ser encontradas entre os capítulos e os versos.

É sábio como ela mostra para ele que é preciso a participação da própria redenção, trabalho a fazer. E em um dos encontros ela joga uma luz nas trevas de Poncelet, ao citar o versículo: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8:32).

O roteiro sabe onde e quando buscar o respiro para que tudo continue a fluir perfeitamente. Um desses respiros encontra-se nos momentos em que as irmãs Helen Prejean e Colleen (Margo Martindale) dividem a cena, há até situações de brincadeiras entre elas, como as piadas referente a escolha do terno para Poncelet e o lugar em que ele deitará para a eternidade.

Há lugar também para o sarcasmo da irmã, quando ela fala – assim que Poncelet coloca um cigarro entre os lábios: – “Isso (o cigarro) vai matar você”. Uma vez que a execução dele se aproxima.

Apesar do nome da irmã Helen Prejean aparecer na mídia associado com o assassino, por conta da dedicação na tentativa de inverter a pena de morte para a prisão perpétua, ela mantém sua palavra e vai até as últimas consequências. A coragem e a humildade domina a irmã quando ela decide ir conversar com os pais das vítimas, nesse momento as emoções extrapolam em sentimentos de profunda tristeza regadas nas lembranças dos filhos e na inconformação da morte cruel.

Nos cenas finais de Os Últimos Passos de Um Homem, minutos antes da execução, Matthew Poncelet tem o seu último momento presencial com a família, antes da morte o levar. Após esse momento familiar do adeus, ele tem com a irmã a conversa da redenção, nela Poncelet confessa tudo sobre seus atos cometidos no crime e acaba rendendo-se à morte e conhece, enfim, o amor quando diz: – “Vai entender. Eu precisei morrer para encontrar o amor”.

Matthew Poncelet reunido com a sua família.
Matthew Poncelet passando o tempo com a família e a irmã Helen Prejean.

A direção de Tim Robbins nos transmite em enquadramentos fechados todo o sentimento envolvido em cada um dos personagens, principalmente nas conversas entre a irmã e o assassino, o plano fechado nos rostos das pessoas revela um momento de intimidade, o que faz lembrar um confessionário.

Toda a construção da cena final provoca um tremendo impacto, que reverbera em reflexões sobre a pena de morte. Nessa hora a atuação dos atores chega ao pico – destaque para Sean Penn – e se mantém em sintonia com a trilha sonora clássica, tem ainda a canção de Dead Man Walkin, “Dead Man Walking“. No silencio da trilha sonora, Matthew Poncelet declara não guardar nenhum ódio no coração, pede perdão aos pais das vítimas que o assiste e em seguida fala que ninguém, nem mesmo o Estado, deveria ter o direito de matar.

A pena de morte praticada pelo Estado é encenada no final do filme Os Últimos Passos de Um Homem com uma linguagem metafórica relacionada à condenação de morte dada por Pôncio Pilatos à Jesus Cristo, por meio da crucificação.

Helen Prejean entrando na igreja
Cena derradeira em que a irmã Helen Prejean se recolhe para dentro da igreja.

É cristalina a mensagem que o filme dedica a transmitir, a questão polêmica do Estado deter o poder de ceifar a vida de um condenado. Inclino-me a observar a extração das joias que esta obra cinematográfica carrega em sua história, uma delas é a dedicação amorosa ao próximo, ensinada através de Jesus Cristo e testemunhada nas Sagradas Escrituras inspiradas por Deus.

No diálogo final entre a irmã Prejean e Earl Delacroix (Raymond J. Barry) – pai de uma das vítimas -, ele fala que tem muito ódio e carece da fé que ela tem. Em seguida a irmã diz: “não é fé. Queria que fosse assim tão fácil. É trabalho”. Creio na interpretação de que ao referir a palavra trabalho, a irmã quis dizer sobre continuar dia após dia alimentando a sua fé através da vida de oração e do evangelho, para que possa servir à Deus dedicando cuidar de si para que possa, principalmente, cuidar dos outros seres humanos, e não dedicado ao ativismo.

NOTA: Nota do crítico - 5 estrelas (excelente!)

 

Trailer

Pôster

Pôster do filme "Os Últimos Passos de um Homem" (1995)

Curiosidades sobre Os Últimos Passos de Um Homem

  • Depois de ser informada de que seria interpretada no filme por “uma famosa atriz de ‘Thelma & Louise’ (1991)”, a irmã Helen Prejean foi apresentada a Susan Sarandon e disse: “Graças a Deus, ela é Louise”;
  • Esse é um dos vários filmes em que a personagem de Susan Sarandon, quando criança, é interpretada por sua filha Eva Amurri;
  • A cena em que a irmã Helen foi parada é baseada em um incidente que aconteceu com Helen Prejean durante as filmagens. Ela achou a cena tão engraçada que pediu para incluí-la no filme;
  • Quando o roteirista e diretor Tim Robbins precisou escrever músicas para o filme, ele simplesmente enviou uma parte do filme para vários compositores famosos, entre eles Bruce Springsteen e Steve Earle, e pediu uma música;
  • Primeiro filme teatral de Peter Sarsgaard (Walter Delacroix);
  • Foi a primeira vez que Tim Robbins e Sean Penn receberam uma indicação ao Oscar. Oito anos depois, ambos ganharam seus primeiros Oscars e também em colaboração, dessa vez por “Sobre Meninos e Lobos” (2003);
  • O título “Dead Man Walking” é uma gíria usada pelos agentes penitenciários ao escoltar os prisioneiros do corredor da morte de suas celas para as câmaras de execução;
  • A maior parte da atuação de Susan Sarandon, vencedora do Oscar, é passada em silêncio, ouvindo os outros;
  • A casa da missão em que a irmã Prejean entra chama-se Hope House. Esse também era o nome da instituição de caridade para a qual Marmee trabalhava em “Adoráveis Mulheres” (1994), também interpretada por Susan Sarandon;
  • Em 2018, este e “Despedida em Las Vegas” (1995) são os últimos filmes indicados ao Oscar de Melhor Diretor, Ator Principal e Atriz Principal, mas não de Melhor Filme;
  • O estupro e os assassinatos ocorreram em 15 de junho de 1988. Os corpos foram encontrados em 21 de junho;
  • Scott Wilson (Capelão Farley) apareceu em dois outros filmes inspirados em crimes reais com cenas de pena capital: “A Sangue Frio” (1967) e “Monster – Desejo Assassino” (2003). E ele apareceu não apenas em “Dead Man Walking”, mas também na série “The Walking Dead” (2010);
  • Um dos sobrenomes das vítimas é Delacroix. Coincidentemente, esse nome também aparece em outro drama sobre a pena de morte, “À Espera de um Milagre” (1999), mas lá era o nome do detento no corredor da morte interpretado por Michael Jeter;
  • Esse é o segundo filme de Tim Robbins envolvendo a prisão, sendo o primeiro “Um Sonho de Liberdade” (1994) como ator e, depois, esse filme como diretor e co-roteirista;
  • Clancy Brown e Sean Penn também apareceram em “Juventude Em Fúria” (1983);
  • Susan Sarandon e Margo Martindale apareceram em “O Óleo de Lorenzo” (1992);
  • Estreia de Missy Yager no cinema;
  • Incluído na lista de 2004 do American Film Institute de 400 filmes indicados para as 100 Melhores Músicas do Cinema da América pela música “Dead Man Walkin”;
  • Raymond J. Barry e Lois Smith participaram de “Um Dia de Fúria” (1993). Tanto em “Dead Man Walking” quanto em “Um Dia de Fúria”, eles não têm cenas juntos;
  • Trailer narrado por Hal Douglas;
  • Agradecimentos especiais a Ry Cooder, Peter Gabriel, Eddie Vedder, Bruce Springsteen, Clancy Brown, Dr. Katz e Julia Roberts.

Ficha técnica

Diretor: Tim Robbins.
Roteiro: Helen Prejean e Tim Robbins.
Produtores: Tim Bevan, Eric Fellner, Jon Kilik, Allan F. Nicholls, Tim Robbins, Mark Seldis, Rudd Simmons e R.A. White.
Diretor de fotografia: Roger Deakins.
Editor: Lisa Zeno Churgin e Ray Hubley.
Design de produção: Richard Hoover.
Figurino: Renee Ehrlich Kalfus.
Cabelo e maquiagem: Ma Kalaadevi Ananda, Michal Bigger, Allison Gordin, Michael Kriston, Aaron F. Quarles, Lizz Scalice, Donna Spahn e Stacy Kelly.
Música: David Robbins.
Elenco principal: Susan Sarandon, Sean Penn, Robert Prosky, Raymond J. Barry, R. Lee Ermey, Celia Weston, Lois Smith, Scott Wilson, Roberta Maxwell, Margo Martindale, Barton Heyman, Steve Boles, Nesbitt Blaisdell, Ray Aranha, Larry Pine, Gil Robbins, Kevin Cooney, Clancy Brown, Adele Robbins, Michael Cullen, Peter Sarsgaard, Missy Yager, Jenny Krochmal, Jack Black, Jon Abrahams, Arthur Bridgers, Steve Carlisle, Helen Hester, Eva Amurri, Jack Henry Robbins, Gary ‘Buddy’ Boe, Amy Long, Dennis Neal, Molly Bryant, Pamela Garmon, Adrian Colon, John D. Wilmot, Margaret Lane, Sally Ann Roberts, Alec Gifford, John Hurlbutt, Mike Longman, Pete Burris, Joan Glover, Florrie Hathorn, Lenore Banks, Idella Cassamier, Marlon Horton, Kenitra Singleton, Palmer Jackson, Johnathan Thomas, Walter Breaux Jr., Scott Sowers, Cortez Nance Jr., Adam Nelson, Dalvin Ford, Derek Steeley, Jeremy Knaster, Mary Robbins, Miles Robbins, Crystal Williams Brown, Marcus Lyle Brown, Joanna Doherty, Brian Donahue, Anthony Michael Frederick, Thomas McGowan, Rawleigh Moreland, Helen Prejean e Codie Scott.

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