Filme "O Protetor: Capítulo Final" (2023), Antoine Fuqua.

Resenha do filme O Protetor: Capítulo Final (2023, Antoine Fuqua)

O personagem Robert McCall (Denzel Washington) se despede da trilogia “O Protetor” em um filme de ação calculista e que dosa os tradicionais excessos  elementares que o gênero exige desde o primeiro capítulo, iniciado em 2014, até “O Protetor: Capítulo Final” (‘The Equalizer 3’), encerrado em 2023.


Nada mais propício que finalizar a franquia de ação O Protetor na bella Itália, em Altomonte, comuna italiana localizada na região sul, cenário congruente ao derradeiro confronto de McCall com a máfia, sucedido pela sua provável aposentadoria, mas não sem antes servir à justiça através de sua vocação e como forma de retribuir o acolhimento e a amizade dos novos amigos, resgatando a paz e a harmonia da comunidade.

A história de “O Protetor: Capítulo Final” inicia com Robert McCall sendo resgatado por um médico, Enzo Arisio (Remo Girone), após ser atingido com um tiro nas costas. Em recuperação na comuna italiana Altomonte, McCall conquista a amizade da população local e descobre que seus amigos estão sofrendo ameaças e agressões de criminosos locais. À medida que os eventos vão se escalando para algo maior, McCall resolve ser o protetor dos seus novos amigos e sai em busca de todos os membros, um por um, até encontrar o chefe da máfia.

Após nove anos desde o primeiro filme da trilogia de “O Protetor” (‘The Equalizer’), a parceria entre o diretor Antoine Fuqua e o ator Denzel Washington parece ter chegado em seu capítulo final com toda a pompa de ser uma das mais expressivas franquias de filmes de ação da atualidade, ao lado da franquia “John Wick”, parceria de sucesso entre o diretor Chad Stahelski e o ator Keanu Reeves.

Outra parceria longínqua vista no filme “The Equalizer 3” é entre Denzel Washington e Dakota Fanning. O primeiro trabalho da dupla aconteceu em 2004, ano que eles contracenaram em “Chamas da Vingança” (direção de Tony Scott), na trama Denzel viveu o guarda-costas John W. Creasy, contratado para proteger (olha o verbo prevendo o sujeito do futuro) a personagem vivida por Dakota (na época uma criança de 10 anos), Lupita “Pita” Martin Ramos.

McCall está sendo servido por Aminah enquanto Collins o observa.
No Caffé Fiore, Aminah (Gaia Scodellaro) serve o chá de McCall (Denzel Washington) enquanto Collins (Dakota Fanning) em primeiro plano, à direita, o observa “disfarçada” e com o celular tira fotos.

Passados quase 20 anos, agora uma mulher adulta, Dakota interpreta Emma Collins, uma agente da CIA que acaba fazendo uma parceria com o personagem Robert McCall. O encontro pessoal dos dois acontece em um simpático estabelecimento onde o protagonista se senta diariamente para tomar o seu habitual chá, não sem antes colocar em prática o seu hábito de organização: abrir o guardanapo e estendê-lo sob o pires. Esse lugar é também o local de trabalho de Aminah (Gaia Scodellaro), responsável por acrescentar uma “pitada de açúcar” à trama.

Este terceiro e último filme da franquia O Protetor, nos mostra um protagonista mais espiritualizado, em busca da redenção dos pecados cometidos frente a onipresença, onisciência e onipotência de Deus, principalmente ao descumprimento do quinto mandamento: “Não matarás”. São vários os momentos em que o diretor mostra McCall olhando para o alto, em direção a igreja encravada na rocha da montanha, ou refletindo ao visualizar a cruz no alto da capela. Há também uma Bíblia na gaveta da mesa de cabeceira e ainda santos e imagens religiosas como Nossa Senhora, Padre Pio de Pietrelcina e diversos crucifixos.

Essa busca pela redenção virá à moda Robert McCall, enrubescido pelo sangue dos criminosos responsáveis por aflorar o lado impiedoso e mortífero adormecido desde 2018, em “O Protetor 2”. É impossível não vibrar com o iminente clima de vingança e mais ainda quando iniciada pelas mãos responsáveis por desferir golpes mortais por meio de movimentos friamente calculados (com licença, Chapolin), literalmente. Quando a ação entra em prática pra valer, a trilha sonora embala o ritmo do batimento cardíaco.

Denzel não decepciona em nenhum momento. Ao interpretar Robert McCall o veterano transita com maestria por características distintas de personalidade, há situações em que o ele é a paz e o amor em pessoa, já em outros instantes o homem é o caos com a faca entre os dentes. É impressionante como o ator insere uma atmosfera de mansidão às cenas, seu domínio quanto a esse aspecto intrínseco é facilmente percebido em outros personagens sobre sua interpretação. São diversas as ocasiões que ele transmite vivacidade, outras ele transfigura a própria morte em carne e osso, por exemplo, quando ele encontra o chefe da máfia, Vincent Quaranta (Andrea Scarduzio), e vai para os finalmentes.

McCall sentado no banco da igreja, em frente ao altar, onde encontra-se um padre.
Este é o momento que McCall parece refletir com Deus sobre os seus atos e sobre àqueles que serão investidos contra a máfia.

Por falar em máfia, os vilões deixam a desejar frente a qualidade do personagem de Denzel Washington e de sua competência interpretativa. Os dois principais vilões, os irmãos Marco Quaranta (Andrea Dodero) e o já citado Vincent Quaranta não passam de mafiosos mimados que se impõem somente quando estão em companhia do bando, no “mano a mano” eles não passam de covardes chorões e desesperados, o que acaba facilitando o objetivo do personagem principal.

Quando o “pau come” é impossível não se empolgar com as cenas de lutas, o trabalho de direção e coreografia pegam firmes na mão e na cintura e dançam em perfeita harmonia, capaz de deixar qualquer entusiasta do cinema de ação fascinado. A criatividade na maioria dos golpes de Robert McCall é um diferencial, principalmente nas finalizações, embalados em movimentos de violência brutal e mortal.

É comum assistirmos às franquias de filmes que começam se tornando um sucesso, mas que decepcionam nas produções seguintes. Os exemplos são vários e muitos deles, de tanto insistirem, passam de uma dezena em um ritmo qualitativo degradante. Não é o caso da trilogia O Protetor, neste a parceria entre Antoine e Denzel – consolidada desde 2001, em “Dia de Treinamento” – mostra que a sinergia dos dois deu certo, a maturidade cinematográfica é vista, aprovada e empacotada com o encerramento desta franquia de grande relevância para o gênero.

Inté, se Deus quiser!

NOTA: Nota do crítico - 5 estrelas (excelente!)

 

Trailer

Pôster

Pôster do filme "O Protetor: Capítulo Final" (2023)

Curiosidades sobre O Protetor: Capítulo Final

  • Reencontro de Denzel Washington com Dakota Fanning após “Chamas da Vingança” (2004), quando ela tinha 10 anos;
  • Os pôsteres internacionais e o pôster IMAX dos EUA têm várias variações da frase ‘O Capítulo Final’ como slogan. No entanto, Antoine Fuqua, em entrevista durante a promoção do filme, disse que uma prequela e uma sequência poderiam acontecer se Denzel ainda estivesse interessado;
  • Este filme marca a quinta colaboração entre Denzel Washington e o diretor Antoine Fuqua depois de “Dia de Treinamento” (2001), “O Protetor” (2014), “Sete Homens e um Destino” (2016) e “O Protetor 2” (2018);
  • Na marca de 10:35 de filme, quando Denzel tenta atirar em si mesmo, a arma não dispara, isso é certamente uma referência ao seu último filme com Dakota Fanning, “Chamas da Vingança”, onde ele tem uma teoria de que ao tentar cometer suicídio, a arma só disparará se você estiver destinado a morrer. Nesse filme, ele tem uma bala guardada para si mesmo, que parece nunca funcionar, mas realmente funciona quando ele entrega a arma ao personagem de Marc Anthony para cometer suicídio;
  • Em todos os filmes d’O Protetor, a cena climática final do confronto sempre foi ambientada em um ambiente altamente precipitado. A primeira parte teve os sprinklers chovendo. A segunda parte teve um furacão. O terceiro teve uma tempestade de chuva;
  • Harry-Gregson-Williams foi originalmente contratado para fazer a trilha sonora do filme, porém, devido a conflitos de agenda, foi substituído por Marcelo Zarvos, que já havia trabalhado junto com Fuqua em “Emancipation – Uma História de Liberdade” (2022). David Buckley e Simon Franglen estavam considerando substituir Williams;
  • No primeiro “O Protetor” (2014) Robert McCall está completamente careca. Em “O Protetor 2” (2018) ele está com cabelo curto e neste filme está careca de novo, dando a entender que não é careca, mas raspa a cabeça;
  • Uma foto na mesa de Emma Collins ao final revela que ela é filha de Brian (Bill Pullman) e Susan Plummer (Melissa Leo), que foram contatos de Robert McCall na comunidade de inteligência em “O Protetor” (2014);
  • No final do filme, Robert McCall envia a Emma Collins seu “livrinho preto” de números de contato sugerindo que ele está se aposentando (foi amplamente divulgado que este será o último filme da série), mas talvez também que ela deveria assumir o papel;
  • Robert McCall aparece apenas em 3 séries de lutas na Parte 3. Um ponto baixo da série. O cenário final mostra Robert usando táticas furtivas para massacrar os membros restantes da máfia e não encontrando nenhum combate corpo a corpo real;
  • Robert mata um dos capangas com um saca-rolhas, mesma arma que usou no primeiro filme;
  • Quando Vincent cai no chão, bem em frente à frutaria onde acaba morrendo, ele pega uma caixa de laranjas que caem no chão. Assim como em “O Poderoso Chefão” (1972) de Francis Ford Coppola, as laranjas são um símbolo da morte e a forma como caem lembra a cena em que Don Vito Corleone (Marlon Brando) é baleado enquanto comprava laranjas na rua;
  • Robert McCall (Denzel Washington), um ex-assassino de operações secretas, é tratado por um médico italiano, Enzo Arisio (Remo Girone), após levar um tiro nas costas. O mesmo acontece com Jason Bourne (Matt Damon), tratado por Giancarlo (Orso Maria Guerrini) em “A Identidade Bourne” (2002). Denzel Washington e Matt Damon estrelaram “Coragem Sob Fogo” (1996), outro filme sobre soldados americanos.

Ficha técnica

Diretor: Antoine Fuqua.
Roteiro: Richard Wenk, Michael Sloan e Richard Lindheim.
Produtores: Tarak Ben Ammar, Todd Black, David Bloomfield, Jason Blumenthal, Vito Colazzo, Tony Eldridge, Antoine Fuqua, Andy Mitchell, Samir M. Patel, Guja Quaranta, Kat Samick, Alex Siskin, Enzo Sisti, Michael Sloan, Steve Tisch, Clayton Townsend, Denzel Washington, Richard Wenk.
Diretor de fotografia: Robert Richardson.
Editor: Conrad Buff IV.
Design de produção: Naomi Shohan.
Figurino: Giovanni Casalnuovo.
Cabelo e maquiagem: Clarissa Antinori, Silvia Castellucci, Larry M. Cherry, Mirella Conte, Daria Del Gobbo, Adrián Dimas, Carl Fullerton, Francesca Iamundo, Nicola Mariano, Luca Mazzoccoli, Federico Meniconi, Maurizio Nardi, Domingo Santoro, Francesca Scalera, Marika Bianco, Rosa Falco e Daniela Nicolò.
Música: Marcelo Zarvos.
Elenco: Denzel Washington, Dakota Fanning, Eugenio Mastrandrea, David Denman, Gaia Scodellaro, Remo Girone, Andrea Scarduzio, Andrea Dodero, Daniele Perrone, Zakaria Hamza, Manuela Tasciotti, Dea Lanzaro, Sonia Ammar, Alessandro Pess, Niccolò Fava, Alessandro Xavier De Silva, Adolfo Margiotta, Niccolò Senni, Bruno Bilotta, Adriano Sabrie, Valerio Da Silva, Giampiero Rotoli, Isabella Delle Monache, Salvatore Ruocco, Daniele Ornatelli, Luigi Catani, Giovanni Trombetta, Gianluigi Scilla, Danilo Capuzi, Giovanni Scotti, Marta Zoffoli, Marco Giuliani, Simona Distefano, Mauro Cremonini, Arcangelo Iannace, Beatrice Aiello, Agostino Chiummariello, Mariarosaria Mingione, Marco Cicalese, Diego Riace, Lucia Zotti, Cristiano Pittarello, Melissa Leo, Luca Della Valle, Massi Furlan e Giuseppe Russo.

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