Resenha do Filme O Diabo de Cada Dia (2020, Antônio Campos)

O Diabo de Cada Dia explora violência humana descontrolada, arraigada em terras rurais dos EUA, um chão que cultiva temas batidos como fanatismo religioso, corrupção, guerra, vingança e tudo quanto é desgraça humana.


O filme O Diabo de Cada Dia (2020) é baseado no romance escrito por Donald Ray Pollock e lançado em 2011, “The Devil All the Time” (no Brasil foi lançado em 2011 com o título O Mal Nosso de Cada Dia).  Além de ter escrito o romance, Pollock empresta a sua voz para narrar o drama.

A história inicia com o narrador debruçado sobre um mapa onde encontra-se encravado, quase imperceptível, as cidades de cultura rural, Knockemstiff, em Ohio, e Coal Creek, na Virgínia Ocidental, lugares localizados em estados vizinhos onde a tece a trama.

O enredo passa por duas gerações da família do veterano de guerra Willard Russell (Bill Skarsgård) que junto do seu filho Arvin Russell (Michael Banks Repeta e Tom Holland) vão passar por perdas, tragédias e infelizes coincidências, isso será mais vivido pelo filho, Arvin. O diabo se faz presente em outros personagens: o casal de serial killers Sandy Henderson (Riley Keough) e Carl Henderson (Jason Clarke) e o pastor abusador Preston Teagardin (Robert Pattinson).

Willard Russell (Bill Skarsgård) e Arvin Russell (Michael Banks Repeta) rezando ao pé da cruz.
Arvin Russell (Michael Banks Repeta) e Willard Russell (Bill Skarsgård) rezando ao pé da cruz enquanto são observados por dois caçadores.

Já de início o diretor Antônio Campos dita o ritmo do filme tanto na voz do narrador quanto no desdobramento da história, são 140 minutos desnecessários, sem pressa para a realização,  mesmo que diante de uma história que se passa por duas gerações. Entretanto o filme possui nomes sólidos no elenco, formado na sua maioria por atores jovens.

A direção capta muito bem as expressões em close-ups, técnica que nos deixa mais perceptíveis quanto às perturbações e desordem que dominam cada personagem. O country e o folk entoam a trilha sonora de clássicos oriundos das décadas de 50 e 60.

Sendo O Diabo de Cada Dia um filme de época, há uma exigência sobre o elenco quanto a transmitir através da interpretação o falar carregado interiorano dos personagens, e assim os fazem bem o básico característico.

Entre os personagens que agem como se estivessem com o diabo no corpo, há o personagem pacato, um observador sem compromisso que parece não ter noção do que acontece na sua redondeza, o homem do posto de gasolina miserável à beira de estrada, vestido de macacão sobre uma camisa xadrez, Hank (Mark Jeffrey Miller).

Hank e Arvin conversando em frente do posto de gasolina.
Hank (Mark Jeffrey Miller) sentado em frente do posto de gasolina enquanto conversa com Arvin Russell (Tom Holland).

O personagem Arvin carrega consigo uma profunda tragédia familiar que o acompanha desde a infância, adulto ele parece buscar o seu lado bom, porém, sem perceber, o seu destino coincidentemente acaba cruzando com algumas pessoas do passando, quando vivia na companhia de seu pai.

O reconhecimento do esforço do diretor é até válido, entretanto nada a elogiar, se não por algumas atuações bem ensaiadas. São muitos os excessos tanto na duração do filme e, mais ainda, nas situações tão batidas em que o diabo encontra o caminho dentro de nós para manifestar suas maldades. Nada adianta se ajoelhar ao pé da cruz se o que vê nela é somente madeira e a ausência do Filho de Deus feito homem.

NOTA:

 

Trailer

Pôster

Pôster do filme "O Diabo de Cada Dia" (2020)

Curiosidades sobre O Diabo de Cada Dia

  • Robert Pattinson não trabalhou com um treinador de dialeto e criou sozinho seu sotaque sulista agudo. O ator escondeu o sotaque de todos – inclusive do diretor Antonio Campos – até o primeiro dia de filmagem. Outros atores enviaram a Campos gravações das vozes em que estavam trabalhando – mas Pattinson não, preferindo ensaiar sozinho e ficando constrangido ao ser julgado antes de realmente ficar na frente da câmera. Campos chamou Pattinson de “gênio louco que pode fazer qualquer coisa”;
  • Robert Pattinson se inspirou para seu personagem assistindo vídeos de televangelistas e estrelas pop da época;
  • O roteiro foi adaptado do romance de 2011 “The Devil All the Time” (O Mal Nosso de Cada Dia) do autor Donald Ray Pollock, que também fez a narração no filme. Foi a primeira vez que ele fez uma narração, nem mesmo o trabalho de voz para seus próprios audiolivros;
  • O ator Harry Melling jogou aranhas tecelãs de verdade em sua cabeça. Ele disse que estava tudo bem com isso, desde que as aranhas não se transformassem em cobras;
  • Apesar de ser o mais cotado, Tom Holland só aparece aos 46 minutos do filme;
  • Robert Pattinson e Sebastian Stan usaram fatsuits (é uma roupa usada para engrossar a aparência de uma atriz ou ator de leve a médio porte em um personagem com sobrepeso ou obeso) para seus papéis;
  • Chris Evans foi originalmente escalado para o papel do delegado Lee Bodecker, mas teve que desistir do filme devido a conflitos de agenda. Seu colega de MCU (Marvel Cinematic Universe), Sebastian Stan, assumiu o papel;
  • Donald Ray Pollock (autor do livro) de fato cresceu em Knockemstiff, Ohio;
  • O diretor Antonio Campos afirmou que em sua cena final, Robert Pattinson queria e realmente caiu no banco. Normalmente haveria um corte e um dublê substituiria o ator;
  • Arvin ainda bebê é interpretado pelo filho do diretor Antonio Campos e sua esposa Sofía, que também foi montadora do filme. O roteiro foi escrito pelo diretor Antonio Campos e seu irmão, Paulo Campos;
  • Pokey LaFarge, o ator que interpreta o parceiro cantor do pregador Roy Laferty, é músico na vida real;
  • A crucificação é um tema recorrente em todo o filme. Há uma imagem de Jesus na cruz pendurada na parede do quarto de Arvin. Arvin, Willard e o reverendo Teagardin machucam as mãos, lembrando os estigmas. E, embora não fosse comum, os soldados japoneses realmente crucificaram prisioneiros de guerra durante a Segunda Guerra Mundial;
  • Nas cenas em que Sandy e Carl estão dirigindo, a faixa de sombra superior do para-brisa é de cor marrom. Isso só acontece em um veículo muito antigo e a cor desbota de azul para marrom. Isso significa que o veículo usado na filmagem para manter o período correto ainda tinha o para-brisa de fábrica;
  • Apesar do cenário ser no centro dos EUA, nenhum dos atores principais é americano, com exceção de Haley Bennett, Kristin Griffith e Riley Keough;
  • A maior parte da história gira em torno de Knockemstiff, Ohio; essa cidade real foi possivelmente chamada assim por causa de um pregador que tentava acabar com uma briga entre paroquianos;
  • Mead era uma fábrica de papel em Chillicothe, Ohio, que é a maior cidade mais próxima de Knockemstiff;
  • O título vem do fato de Arvin falar sobre a combinação de oração fanática e consumo excessivo de álcool do pai e que “parecia que seu pai lutava contra o demônio o tempo todo”, conforme citado no livro;
  • Tom Holland e Robert Pattinson foram co-estrelas em “Z: A Cidade Perdida” (2016);
  • Robert Pattinson e Harry Melling co-estrelaram “Z: A Cidade Perdida” (2016) e “Esperando os Bárbaros” (2019). Ambos tiveram grandes chances na série “Harry Potter”, mas não apareceram no mesmo filme;
  • O terceiro filme de Harry Melling na Netflix em dois anos, depois de “A Balada de Buster Scruggs” (2018) e “The Old Guard” (2020);
  • Tom Holland e Sebastian Stan estrelaram vários projetos MCU, incluindo três filmes MCU juntos: “Capitão América: Guerra Civil” (2016), “Vingadores: Guerra Infinita” (2018) e “Vingadores: Ultimato” (2019). O filme também foi produzido pelo Homem-Aranha de Tom Holland: “Longe de Casa” (2019), do ator Jake Gyllenhaal. Além disso, Robert Pattinson é uma estrela da DC, desempenhando o papel titular em “Batman” (2022);
  • Na Espanha, o título foi traduzido como “El Diablo a todos hora” (O Diabo em todas as horas), em vez do literal “El Diablo todo el tiempo”;
  • Esta marca a terceira vez em 2020 em que Tom Holland se reencontra com um ex-colega de elenco do MCU. O primeiro foi “Dolittle” com Robert Downey Jr, depois “Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica” com Chris Pratt e este filme com Sebastian Stan;
  • Robert Pattinson e Mia Wasikowska co-estrelaram em “Mapas para as Estrelas” (2014) e “Sob o Sol do Oeste” (2018). Esse poderia ter sido seu quarto filme juntos se ambos não tivessem desistido de “Amaldiçoada” (2016);
  • Tim Blake Nelson e Pokey LaFarge têm alguma semelhança física. Tim Blake Nelson atuou em O “E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?” (2000) e aparece em uma música chamada “In the Jailhouse Now”; Pokey LaFarge escreveu e canta “In the Graveyard Now”, adaptada da tradicional “In the Jailhouse Now”;
  • Contagem de corpos: 13.

Ficha técnica

Diretor: Antonio Campos.
Roteiro: Antonio Campos, Paulo Campos e Donald Ray Pollock.
Produtores: Max Born, Jared Goldman, Jake Gyllenhaal, Marc A. Hammer, Riva Marker, Annie Marter e Randall Poster.
Diretor de fotografia: Lol Crawley.
Editora: Sofía Subercaseaux.
Design de produção: Craig Lathrop.
Figurino: Emma Potter.
Cabelo e maquiagem: Miki Caporusso, Leo Corey Castellano, Laura Eason, Meghan Heaney, Ann-Maree Hurley, Jennifer Kimlin, Gloria Pasqua Casny, Cassandra Powell, Jared Balog, Philip Harrah, Mark Nieman, Somica Spratley, Joy Travis, Josh Turi e Anna Williams..
Música: Danny Bensi e Saunder Jurriaans.
Elenco: Bill Skarsgård, Tom Holland, Banks Repeta, Emilio Subercaseaux Campos, Haley Bennett, Kristin Griffith, Sebastian Stan, Riley Keough, Jason Clarke, Harry Melling, Pokey LaFarge, Eliza Scanlen, Robert Pattinson, David Atkinson, Mia Wasikowska, Matthew Vaughn, Billy Joe Bradshaw, Douglas Hodge, Gregory Kelly, David Maldonado, Mark Jeffrey Miller, Ryan Anthony Williams, Wes Robertson, Todd Barnett, Michael Harding, Lucy Faust, Abby Glover, Kelly Lind, Cotton Yancey, Adam Fristoe, Morganna Bridgers, Karson Kern, Zack Shires, Ivan Hoey Jr., Drew Starkey, Caleb J. Thaggard, Ever Eloise Landrum, Given Sharp, Cory Scott Allen, Emma Coulter, Cody Jones, Madelyn Wall, Jason Collett, Eric Mendenhall, Teddy Cole, Michael H. Cole, Andrew Young, Cort Chandler, Bruce Cooper, Daniel James Vaughn, Edward Hall, Jeff McCarthy, Santino Fontana, John Rue, Bruce Cooper, Ben Bailey, Meagan Bown, Jeremy Brink, Jorge Castro-Salinas, Michael Corin, Anthony Davis, Phillip DeVona, Anthony Eads, Nathan Harris, Cora Henderson, Jason Charles Hill, Lawrence Hinkle, James H Keating, Jeff McKinney, Ethan Melisano, Morgan Monroe, Myles Phillips, Donald Ray Pollock, Matt Powell, Scott Rapp, Kyle Sawyer, Leslie Sides, Justin Matthew Smith, Joey Traywick, Cade Tropeano e Kevin Waterman.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima