Resenha do Filme Crocodilo Dundee (1986, Peter Faiman)

A história por trás de “Crocodilo Dundee” mostra a face turística e cinematográfica do maior país da Oceania, a Austrália, acrescido de personagens antagônicos: o protagonista do Outback australiano, Michael J. “Crocodilo” Dundee (Paul Hogan); e a escritora/repórter de Nova York, Sue Charlton (Linda Kozlowski). O choque de cultura de ambos é o pano de fundo desta história divertida, simpática e simplista.

A jornalista Sue está disposta a viajar para um lugar remoto da Austrália com a intenção de fazer uma matéria sobre o caçador de crocodilo Michael J. Dundee, o popular Crocodilo Dundee. No mundo selvagem de Dundee, este leva a atraente e rica jornalista nova-iorquina para uma aventura em seu habitat repleto de surpresas perigosas.

Após salvar a vida de Sue, chega a vez dele conhecer a selva de pedra em que habita a jornalista, Nova York. Na cidade mais populosa dos Estados Unidos, Dundee viverá as aventuras da vida moderna sobre a sua personalidade simples e inocente, situação propícia para boas gargalhadas. Para você que ainda não assistiu, espero que esta resenha crítica desperte a vontade em conhecer este nostálgico clássico dos anos 80.

O filme dirigido pelo diretor Peter Faiman teve inspiração em um personagem do mundo real, nas aventuras do caçador de búfalos Rod Ansell. Paul Hogan escreveu o personagem – que ele mesmo interpreta – baseado em Ansell, algumas excentricidades deste é visto no filme, como na cena do hotel em que Sue vê no chão do quarto, ao lado da cama, o espaço preparado por Dundee para ele dormir.

Em Nova York o roteiro se torna ainda mais engraçado, tudo devido às situações em que Dundee se vê obrigado a estar, e a enfrentar. O seu jeito inocente, aliado a simplicidade do homem do interior, faz com que ele conquiste algumas rápidas amizades, o chofer Gus (Reginald VelJohnson) é uma delas, este chega a salvar Dundee de ser espancado por um cafetão e seus comparsas; tem o taxista caricato Danny (Rik Colitti) que o acompanha para um bar.

Em meio a uma coleção de situações engraçadas vividas pelo icônico personagem, o filme reserva um espaço na história para um romance daqueles em que os opostos se atraem. Sue Charlton e Mick Dundee, já na primeira parte do filme, trocam um beijo à margem de um belo lago australiano, depois, na cidade de Nova York, Sue “rouba” mais um beijo do Crocodilo Dundee, logo após uma cena engraçada em que ele livra ambos de um assalto anunciado por três ladrões.

São muitos os momentos em que o personagem principal nos surpreende com as suas abordagens baseadas na sua simplória visão de mundo frente às situações consideradas normais para quem é acostumado a viver na loucura da vida metropolitana. Mick utiliza-se do seu repertório prático de sobrevivência para enfrentar ou escapar de situações adversas ao seu costume.

Na época em que o filme foi lançado, muitos australianos se sentiram estúpidos frente ao estereótipo “ocker” (gíria australiana utilizada para um compatriota que fala e age de forma inculta e rude.) do personagem interpretado por Paul Hogan.

Não deixo de exaltar as contracenações entre os personagens Sue Charlton e Michael J. “Crocodilo” Dundee, sucessivamente interpretados pelos atores Linda Kozlowski e Paul Hogan. O romance vivido pelos personagens deles neste filme, coincidiu com um relacionamento posterior fora das telas. Os personagens deram tão certos que dois anos depois, em 1988, eles se reencontram para uma sequência, “Crocodilo Dundee II“, e para o desfecho da trilogia, “Crocodilo Dundee em Hollywood” (2001) – neste terceiro filme da franquia, Linda e Paul já estavam juntos na vida real por 1 ano.

Pulando para a cena final do filme, o caçador australiano sai do hotel e vai até uma estação de metrô, para dar início a sua aventura pela América, assim que Sue fica sabendo disso, ela logo vai ao encontro do seu novo amor. Ao chegar à estação, acontece uma das cenas mais marcantes do filme, devido a grande quantidade de pessoas na plataforma e a grande distância entre o casal, a comunicação direta entre eles fica impossibilitada de ser ouvida. A solução encontrada por Sue é transmitir sua mensagem para a pessoa mais próxima a ela, assim por diante, até chegar aos ouvidos de Dundee.

Após receber a última mensagem de Sue, Dundee vai ao encontro dela caminhando sobre as pessoas que estão entre eles, como se fosse um pastor australiano (cachorro) a andar sobre as costas do rebanho até o seu destino. É uma cena que de certa forma potencializa o romance entre o casal, mas que não deixa de lado toda a excentricidade cômica do personagem principal, devido aos seus costumes de homem do campo em contraste com os costumes da cidade grande.

Por mais que este filme seja datado no início da segunda metade dos anos de 1980, e que você provavelmente já tenha assistido em alguma sessão de filmes da TV aberta, Crocodilo Dundee ainda é uma escolha válida para quem está procurando por um filme que combina em seu enredo os gêneros comédia e aventura, e que mantém bem distante qualquer evidência do politicamente correto.

NOTA:

Trailer

Pôster

Curiosidades sobre Crocodilo Dundee

• “‘Crocodile’ Dundee” foi o segundo maior sucesso de bilheteria de 1986;
• A Sydney Harbour Bridge é mostrada no início do filme pela janela do hotel enquanto Sue está ao telefone com Nova York. Paul Hogan ajudou a pintar essa ponte antes de começar sua vida de ator dizia-se que fazia seus colegas de trabalho rirem boa parte do tempo;
• Paul Hogan realmente andou por aí dizendo “bom dia” aos nova-iorquinos durante sua primeira viagem a Manhattan;
• Havia versões de aço, borracha e alumínio da faca Bowie no set. Hogan ficou com uma das facas de aço após o filme e prometeu nunca vendê-la;
• David Gulpilil (Nev) coreografou a dança aborígine tradicional mostrada no filme. Ele é um dos mais famosos e aclamados dançarinos tribais de todos os tempos na Austrália;
• “Crocodilo Dundee” (1986) foi o segundo filme de maior bilheteria de 1986. Ele arrecadou US$ 177 milhões somente nos EUA e US$ 353 milhões em todo o mundo. “Platoon” (1986) foi o terceiro maior filme do ano, com “Top Gun: Ases Indomáveis” (1986) ficando em primeiro lugar;
• Paul Hogan não tinha ideia de que o filme seria um grande sucesso internacional. “Pensei que estava fazendo um pequeno e agradável filme de comédia para a Austrália.”;
• Linda Kozlowski foi a única americana no set durante todo o tempo em que as filmagens foram realizadas no Território do Norte da Austrália;
• O elenco e a equipe dormiram em cabanas em um acampamento de mineiros próximo durante as filmagens no outback;
• Este filme foi um dos cinquenta filmes australianos selecionados para preservação como parte do Arquivo Nacional de Filmes e Sons do Projeto de Restauração da Coleção de Cinema Kodak/Atlab da Austrália (National Film and Sound Archive of Australia’s Kodak / Atlab Cinema Collection Restoration Project);
• Quando Paul Hogan deu uma entrevista para o filme “Crocodilo Dundee em Hollywood” (2001), ele acabou com o mito de que havia um “Crocodilo Dundee” de verdade. Ele garantiu ao entrevistador que não existia, e que a ideia para o personagem veio de sua própria cabeça. Hogan admitiu que, em uma viagem a Nova York, sentiu-se como um completo peixe fora d’água e a ideia começou a se formar em sua cabeça;
• Melissa Joan Hart apareceu originalmente no filme como uma garotinha no Central Park, cujo corte no joelho foi curado por Mick. A cena foi filmada, mas acabou excluída;
• As “aspas” em torno de “Crocodile” (Crocodilo) no título foram adicionadas no lançamento americano para garantir que as pessoas não pensassem que Dundee era um crocodilo;
• “Crocodile Dundee” foi a estreia no cinema de Paul Hogan e Linda Kozlowski;
• Havia passeios do “Crocodile Dundee” no Parque Nacional de Kakadu depois que o filme foi lançado;
• O búfalo que Mick Dundee pacificou estava drogado;
• O filme é o quinto filme mais assistido a ser transmitido na televisão britânica quando foi exibido na BBC1 em 25 de dezembro de 1989. Ele atraiu 21,75 milhões de espectadores. É também o filme mais assistido a ser exibido pela BBC, já que os quatro filmes com maior audiência – “Com 007 Viva e Deixe Morrer” (1973), “Tubarão” (1975), “007: O Espião que me Amava” (1977) e “007 – Os Diamantes São Eternos” (1971) – foram exibidos pela ITV;
• A ideia do filme surgiu quando Paul Hogan visitou a cidade de Nova York e se sentiu como um estranho, pois as pessoas pensavam que ele era escocês, o que o inspirou a escrever o filme;
• O único filme da série “Crocodile Dundee” a ser indicado ao Oscar;
• Michael Hutchence e outros membros do INXS investiram no filme para ajudar a reduzir o pagamento de mais impostos na Austrália, mas o sucesso do filme fez com que eles ganhassem milhões. Eles também forneceram uma música, “A Different World”, para a trilha sonora;
• O diretor Ingmar Bergman tinha uma cópia em VHS de “Crocodile Dundee”. Ela pode ser encontrada em sua coleção de filmes no Fårö;
• Apesar da insistência de Paul Hogan em afirmar que “Crocodile Dundee” era sua própria criação, mais tarde foi revelado que a inspiração real para o personagem foi o bosquimano Rod Ansell. Rod Ansell tornou-se popular na Austrália em 1977, quando seu barco virou durante uma expedição de caça solo e ele teve que passar dois meses preso na natureza. Ele sobreviveu bebendo sangue de vaca, dormindo com cobras e ocasionalmente lutando e decapitando crocodilos. Durante uma entrevista posterior à BBC sobre sua aventura (na qual ele supostamente compareceu descalço), Ansell mencionou que o hotel em que o colocaram era muito bom e tudo, mas ele decidiu dormir no chão. Curiosamente, foi esse pequeno detalhe – e não a história da luta com animais – que inspirou “Crocodile Dundee”. Infelizmente, Ansell não ganhou um centavo com o uso de sua história e sua vida e seu casamento desmoronaram e ele acabou desenvolvendo um vício em drogas que culminou em um tiroteio com policiais, matando um deles. Alguns dizem que ele enlouqueceu devido à sua exclusão do sucesso dos filmes “Crocodile Dundee” – a produtora até o proibiu de iniciar sua própria “turnê Crocodile Dundee“;
• O nível inferior abandonado da estação BMT Ninth Avenue no Brooklyn foi usado para a cena do metrô perto do final do filme. Os sinais de informação da rota estavam corretos para serviço na 59th Street–Columbus Circle; no entanto, as marcações de rota com letras duplas foram eliminadas quando o filme foi lançado. A marcação AA, por exemplo, tornou-se K;
• Em 2016, houve rumores de que o filme seria reiniciado e de que o ator Chris Hemsworth assumiria o lugar de Paul Hogan e o sucederia como Mick Dundee;
• Paul Hogan afirmou que as pessoas nos EUA viam seu personagem como um cruzamento entre Chuck Norris e Rambo;
• John Cornell foi creditado pelo roteiro na versão internacional, mas apenas como editor de roteiro no lançamento original na Austrália;
• Na cena em que o crocodilo ataca Sue e Dundee a salva, ele a abraça. Quando uma pessoa entra em choque, ela sofre uma queda repentina no fluxo sanguíneo pelo corpo e pode até ficar com hipotermia. Abraçar uma pessoa em estado de choque dá-lhe calor ao corpo e ajuda a aquecê-la. Abraçá-la era a coisa mais inteligente a fazer, quer Dundee soubesse disso ou não;
• Paul Greco (nova-iorquino) e John Snyder (o cafetão) participaram de “Os Selvagens da Noite” (1979);
• Uma cervejaria australiana lançou uma dupla de cervejas India Pale Ale (IPA) dedicada à famosa cena “That’s not a Knife THAT’S A KNIFE”. Uma lata tem uma faca pequena e a outra tem uma faca grande que lembra a de Mick Dundee. No entanto, eles as rotularam incorretamente como “That’s not a knife” (Isso não é uma faca) e “This Is A Knife” (Isso é uma faca);
• No Reino Unido, o filme recebeu a classificação 15 por causa da cena em que Sue é atacada por um crocodilo;
• Mick Dundee só aparece aos 8 minutos do filme;
• O primeiro filme da trilogia Crocodile Dundee (1986 – 2001);
• Assim como “A Máscara do Zorro” (1998)/”A Lenda do Zorro” (2005), esse filme tem classificação PG-13 (Pais fortemente advertidos – Algum material pode ser inadequado para crianças menores de 13 anos) e sua sequência “Crocodilo Dundee II” (1988) tem classificação PG (Sugestão de orientação parental – Alguns materiais podem não ser adequados para crianças);
• O filme foi lançado em DVD pela 20th Century Fox;
• A cena no metrô, perto do final do filme, em que os personagens chegam um ao outro sendo carregados sobre as cabeças das pessoas na multidão, pode ter sido incluída para evocar uma imagem dos cães pastores australianos, que às vezes sobem nas costas do rebanho para viajar rapidamente de um lado para o outro;
• O crocodilo do filme ainda está vivo e atende pelo nome de Burt. Você pode encontrá-lo no parque de vida selvagem Crocosaurus Cove em Darwin. Ele tem mais de 80 anos, 5,1 metros de comprimento e pesa 700 kg. Burt também forneceu a base para o crocodilo digital do filme “Morte Súbita” (2007). Burt está em cativeiro há mais de 30 anos e estrelou uma série de outros documentários e programas de conscientização ao longo desse tempo. Burt agora é um solteiro convicto com uma atitude mal-humorada!;
• Eles não se beijam no final, quando ficam juntos, apenas se abraçam.

Ficha técnica

Diretor: Peter Faiman.
Roteiro: Paul Hogan, Ken Shadie e John Cornell.
Produtores: John Cornell, Jane Scott e Wayne Young.
Diretor de fotografia: Russell Boyd.
Editor: David Stiven.
Design de produção: Graham ‘Grace’ Walker.
Figurino: Norma Moriceau.
Cabelo e maquiagem: Elizabeth Ann Fardon, Jean Paul e Carla White.
Música: Peter Best.
Elenco: Paul Hogan, Linda Kozlowski, John Meillon, David Gulpilil, Ritchie Singer, Maggie Blinco, Steve Rackman, Gerry Skilton, Terry Gill, Peter Turnbull, Khristina Totos, Graham ‘Grace’ Walker, David Bracks, Brett Hogan, Mark Blum, Michael Lombard, Irving Metzman, Reginald VelJohnson, Rik Colitti, John Snyder, J.J. Cole, Gwyllum Evans, Clarie Hague, Jan Saint, Peter Bucossi, Sullivan Walker, Bobby Alto, Anne Carlisle, Anne Francine, Paige Matthews, Paul Greco, Caitlin Clarke, Nancy Mette, Barry Kivel, Tony Holmes, Dan Lounsbery, Dolores Messina, Danny Aiello III, Kevin Ash, Yvonne Erwin, Dhonna Harris Goodale, Sharon Househam, Tony LaFortezza, Christopher Lockhart, Keith Nisonoff, Joe Pentangelo e David Trim.