Resenha do Filme A Hora do Lobo (2019, Alistair Banks Griffin)

A ótima performance de Naomi Watts em “A Hora do Lobo” é a única luz existente pré e pós blecaute de 1977, em Nova York.


A história por trás do filme “A Hora do Lobo” (2019) acompanha a vida solitária da personagem June Leigh (Naomi Watts), uma figura da contra-cultura que encontra-se sobrevivendo isolada e lutando contra si mesma no apartamento da vó, localizado na Nova Iorque de 1977, no sul do Bronx. A bagunça que domina o apartamento e o psicológico de June se faz presente também além da janela, lá em baixo, nas ruas da vizinhança, onde o clima é de tensão e abandono, intensificado por crimes brutais cometidos por um assassino misterioso, apelidado de Son of Sam.

Em meio a uma população que assiste assustada a escalada da violência na metrópole,  June acompanha da janela do seu apartamento sujo e úmido de suor – devido às altas temperaturas do clima – toda a apreensão de que a qualquer hora ela poderá ser vítima da hostilidade que provém das ruas.

June Leigh observa da janela o movimento da rua.
June Leigh (Naomi Watts) observando o movimento da vizinhança da janela do seu apartamento.

O diretor Alistair Banks Griffin inicia o filme com o foco no rosto da protagonista, seus olhos marejados parecem fixados em um horizonte tempestuoso e caótico que inevitavelmente caminha em sua direção. Em seguida há um corte para o lado externo, onde a câmera agora capta todo o conjunto de janelas e se aproxima lentamente da janela aberta do apartamento de June até a cama onde ela é acordada com o toque do interfone.

Aliás, o interfone citado no final do parágrafo anterior é um elemento muito acionado durante todo o suspense da trama, desnecessário por não ter um objetivo sequer, a não se acanhar ainda mais a protagonista em sua bolha de chorume em meio a areia movediça.

O maior destaque de A Hora do Lobo (The Wolf Hour) é quanto a performance de Naomi Watts, ela mergulha nos conflitos da personagem e veste a carapuça com dignidade. Este é um substantivo que não cabe à personagem em si, além de sua incapacidade de não arredar os pés daquele limbo em que ela acredita ser seu porto seguro.

Apesar da insegurança em sair para a rua – nem a presença da sua amiga, Margot (Jennifer Ehle), inibiu o medo em colocar os pés para fora de casa – ela busca por telefone um serviço discreto de acompanhante, Billy (Emory Cohen), mesmo depois de expulsar um policial corrupto que faz uma proposta indecente em troca de protegê-la contra os assédios e ameaças que ela vem recebendo.

O relacionamento de June com Billy serve como uma injeção de ânimo para sair da beira do precipício em que ela se metera, pois ela senta em frente a sua máquina de escrever e retorna sua dedicação na finalização do seu livro. Ela até faz um telefonema de desculpas para Margot, reconhecendo o seu erro quanto ao comportamento estúpido que teve com a amiga.

A inocência de June ao conhecer o entregador Freddie (Kelvin Harrison Jr.) é desesperador e patético, o rapaz a explora financeiramente pelo simples ato de descer um saco de lixo do apartamento dela até a lixeira da calçada. Mesmo sabendo da índole do rapaz, ela pede para ele entregar na mão da sua editora o manuscrito do livro que ela acabara de escrever, ao percebendo a importância do manuscrito e o desespero dela, ele aproveita para explorá-la financeiramente, mais uma vez.

Vale abrir um parênteses aqui para escrever sobre a inserção da trilha sonora, um quesito técnico que intensifica no ponto certo os momentos de suspense. O toque do interfone emite um barulho que é irritante e que ao mesmo tempo deixa os nervos em pura tensão, infelizmente o diretor falha ao esquecer de introduzir ação e limita-se a entregar somente o suspense do chiado mudo do interfone.

June Leigh atendendo o interfone
June Leigh (Naomi Watts) atende o interfone.

Nos últimos minutos do filme é que o suspense toma conta da história, após não ter notícias de Freddie, que já deveria ter entregue o manuscrito ao destino, June se frustra com a tentativa em vão de pedir desculpa à Margot. Em meio aos trovões e relâmpagos que invadem o ambiente em que está, ela caminha até a janela e observa o horizonte iluminado da cidade se apagando de uma vez, em seguida o caos e desordem invadem as ruas da cidade junto de massivos saques em estabelecimentos comerciais, assaltos a mão armada e diversos pontos de incêndios criminosos.

É nessa ocasião extrema causada pelo blecaute de 1977 em Nova York  que finalmente June resolve sair da sua zona de conforto e andar no perigo instalado lá fora, rumo ao nascer de um novo dia – quem sabe de uma nova vida – em meio a toda sujeira, destruição e fumaça saindo do que queimou.

Um final bem romântico para quem o abismo estava por um fio dos calcanhares. Faltou pouco para ela derrapar para a garganta do diabo, o que não faltou foram as vezes em que o roteiro escorrega. E assim se fez a temporada no abismo de June Leigh.

NOTA: Nota do crítico: 2 estrelas (regular)

 

Trailer

Pôster

Pôster do filme "A Hora do Lobo" (2019)

Curiosidades sobre A Hora do Lobo

  • Ambientado durante o apagão do “Son of Sam” em 1977;
  • Naomi Watts e Kelvin Harrison Jr. estrelaram juntos em “Luce” (2019);
  • Jennifer Ehle e Kelvin Harrison Jr. co-estrelaram anteriormente o filme “Monstro” (2018);
  • Influenciado por “O Ninho” (1981), dirigido por Armand Weston;
  • A ação do filme se passa no verão de 1977 e a trilha sonora inclui a música “Ghost Rider” lançada pela Suicide em dezembro de 1977.

Ficha técnica

Diretor: Alistair Banks Griffin.
Roteiro: Alistair Banks Griffin.
Produtores: Fred Berger. Bailey Conway, Ged Dickersin, Felipe Dieppa, Kate Driver, Garrett P. Fennelly, Brian Kavanaugh-Jones, Paul A. Levin, Linda Moran, Gabrielle Nadig, Taryn Nagle, Bradley Pilz, Dennis Rainaldi, Philip W. Shaltz, Naomi Watts e Sandra Yee Ling.
Diretor de fotografia: Khalid Mohtaseb.
Editor: Robert Mead.
Design de produção: Kaet McAnneny.
Figurino: Brenda Abbandandolo.
Cabelo e maquiagem: JT Franchuk, Pete Gerner, Jose L. Lopez, Naomi Raddatz e Ashley K. Thomas.
Música: Danny Bensi e Saunder Jurriaans.
Elenco: Naomi Watts, Jennifer Ehle, Emory Cohen, Kelvin Harrison Jr., Jeremy Bobb, Brennan Brown, Ohene Cornelius, Robert Testut, Richard Bird, Sean Pilz, Maritza Veer, Glenn Lee, John Palacio, Danny Goldsmith, Michael Fearon, Jack Aujad, Tony Barnes, Jazzmin Smith, Angel Christian Roman, Jahmere Rogers, Cj Stuart, Pedro Hollywood, Millz Serano e Heinley Gaspard.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima