Filme "Eu Sou: Celine Dion" (2024), Irene Taylor

Resenha do documentário Eu Sou: Celine Dion (2024, Irene Taylor)

O tema central explorado pelo documentário “Eu Sou: Celine Dion” (‘I Am: Celine Dion’) é a mudança dramática provocada na vida da cantora canadense Céline Dion, após ser diagnosticada com uma condição neurológica muito rara chamada síndrome da pessoa rígida (SPR), doença autoimune que causa rigidez muscular e espasmos dolorosos, que afeta cerca de uma pessoa em um milhão.


Antes do documentário “Eu Sou: Celine Dion” iniciar, o espectador é alertado que o filme a seguir contém cenas fortes de trauma médico e que aconselha-se a discrição daquele que o assiste. E o que se assiste após a introdução é realmente de grande impacto, ao mesmo tempo assustador: Céline Marie Claudette Dion encontra-se deitada no chão em posição fetal com os membros rígidos e gemendo devido às dores insuportáveis. Ao lado dela, ajoelhado no chão, o seu terapeuta de medicina esportiva tenta acalmá-la enquanto é realizada uma chamada por telefone para pedir ajuda aos socorristas.

Dirigido pela cineasta norte-americana Irene Taylor, “Eu Sou: Celine Dion” acompanha os bastidores de um lado da vida de uma superestrela da música que não estamos acostumados a ver. Este documentário nos põe como observadores da batalha pessoal e diária de uma celebridade da música contra a síndrome da pessoa rígida e suas manifestações dilacerantes.

É impressionante o estado físico que Celine Dion encontra-se frente às lentes das câmeras.  Durante as gravações, é perceptível as mudanças provocadas em sua fisionomia, o rosto inchado e a aparência envelhecida são indícios dos efeitos colaterais provocados pelos medicamentos administrados para o tratamento da SPR. Outras imagens registradas que assustam, são capturadas no momento em que o corpo dela sofre com a repentina e torturante crise de dores que deixam os músculos do corpo enrijecidos, deixando-a com uma aparência irreconhecível. Depois que é retomado o domínio do seu corpo, ela se sente constrangida e diz não saber descrever como é não poder ter o controle do seu próprio corpo.

Celine Dion chora devido as fortes dores durante uma crise da síndrome da pessoa rígida (SPR)
Amparada pelo seu fisioterapeuta esportivo, Celine Dion chora devido as dores intensas provocadas pela crise da síndrome da pessoa rígida (SPR).

A honestidade que Celine Dion se dispõe diante das câmeras, nessa fase delicada de sua saúde, pode ser a maneira encontrada por ela para dar satisfação à ansiedade dos fãs, diante do seu estado de saúde que a obrigou parar de aparecer na mídia e principalmente de fazer o que mais ama: estar em cima do palco e cantar diante do seu imenso público.

O cantar e a música estão presentes na vida de Celine Dion assim como água está para a vida e muito dessas duas palavras aparecem ao longo desta biografia. Ela diz a todo momento o quanto é triste estar presa, não poder cantar a sua música para a sua plateia e não ter o domínio total de sua voz de soprano lírico – que encontra-se em declínio desde que foi acometida pela SPR. Imagine você não poder fazer o que quer, no caso de Celine, cantar. Segundo relatado por ela: “minha voz… era o que conduzia a minha vida. Eu só a seguia. Você (a voz) mostra o caminho e eu sigo.”

É impressionante quando Celine faz um tour pelo depósito em que guarda com carinho todo o seu figurino artístico adquirido e utilizado em toda sua carreira até então. Alguns são mostrados em formato de imagens dela utilizando determinada roupa em um importante evento ou em algum dos seus inúmeros shows. Seu amor pelos sapatos também a fez acumular um número expressivo – eles são organizados em estantes enormes. Ela é tão organizada que todos os desenhos feitos pelos filhos (quando crianças) são guardados com carinho.

Em meio às filmagens realizadas exclusivamente para o documentário, a edição ilustra algumas passagens da artista com a inserção de filmagens originais antigas, shows, participações em programas televisivos e momentos de intimidade vividos com a família, desde o nascimento dos filhos até a morte do ex-marido, músico e empresário canadense de origem síria, René Angélil.

Celine Dion com seus empresários escutando a gravação final da nova música.
Os empresários Dave Platel e Denis Savage mostram a gravação finalizada da música “Love Again”, interpretada por Celine Dion. É a primeira música nova de Celine em quatro anos e desde que ela revelou – em dezembro de 2022 – que estava lutando contra a SPR.

Mesmo nascida em uma grande família (Celine é a mais nova de quatorze irmãos), o documentário limita-se ao mostrar esse contato dela com seus irmãos e outros parentes – pode ser que ela tenha optado em preservá-los da exposição. A interação de Celine com os filhos – principalmente os gêmeos – é mostrada com certa timidez em alguns momentos, na maioria das aparições a atenção dos filhos é dividida entre ela (a mãe) e os jogos (videogame). É quase total a ausência do filho mais velho, René-Charles Angelil (RC).

A prática espiritual parece ausente na vida de Celine Dion, em nenhum momento ouve-se falar sobre o assunto. Em determinado momento, uma cruz é vista no pescoço de Celine, mas parece estar pendurada como um mero adorno do que propriamente um símbolo para expressar a sua fé ou a sua religião. Acredito que a fé da Celine encontra-se mesmo na música, pois seu amor em cantar é onipresente e são várias as vezes em que ela conversa cantarolando uma frase e outra.

Infelizmente, a espiritualidade parece não ter importância na vida da maioria dos artistas, principalmente a religião, qualquer que seja. Muitos deles acabam se perdendo em vida (ou a vida) ao buscar o verdadeiro sentido nas coisas mundanas, sem saber que a religião é a porta que leva ao caminho que fornece sentido e forma à busca individual pelo transcendente significado.

O amor que Celine Dion tem à música, entende ser a fé que a faz resistir com bravura às intempéries oriundas da rara doença que a consome e deteriora o dom que Deus lhe deu, a voz. São vários os registros que ao assistir fazem os olhos se encherem de lágrimas: em um show realizado pouco mais de um mês após perder o marido e o irmão, Celine é consumida pela emoção ao interpretar a canção “All By Myself” (Eric Carmen); outro emocionante registro é quando ela se recupera de uma crise da SPR e no momento em que seu terapeuta coloca para tocar no celular a música “Who I Am” (Wyn Starks), Celine se levanta rapidamente e com a emoção à flor da pele começa a andar enquanto segue cantando, visivelmente mergulhada em um estado de emoção que só a música é capaz de proporcionar.

“Eu Sou: Celine Dion” é um documentário que encerra todo o questionamento sobre o que levou ao afastamento dela do show business. Mesmo diante do sofrimento de perder na mesma semana o marido René Angélil, e o irmão Daniel Dion (vítimas de câncer), Celine encontra-se firme e forte seguindo os conselhos e tratamentos dos profissionais que a rodeiam, para que um dia – se Deus quiser – ela retorne aos palcos com a voz mais próxima daquela que a fez ser uma das vocalistas mais influentes da música pop. 

Inté, se Deus quiser!

NOTA: Nota do crítico: 4 estrelas (ótimo)

 

Trailer

Pôster

Pôster do filme "Eu Sou: Celine Dion" (2024)

Ficha técnica

Diretora: Irene Taylor.
Produtores: Julie Begey Seureau, Shane Carter, Stacy Lorts, Tom Mackay, Dave Platel, Sydney Rafter, Denis Savage, Irene Taylor e Krista Wegener.
Departamento de Animação: Brian Kinkley.
Editor: Richard Comeau e Christian Jensen.
Departamento Editorial: Evan Anthony.
Departamento de Música: Sarah Maniquis-Garrisi e Nina Tanaka.
Elenco: Céline Dion, Nelson Angélil, Eddy Angélil, Eddy Angélil, Terrill Lobo, Denis Savage, Dave Platel, René Angélil, James Corden, Jimmy Fallon, John Farnham e Ryan Reynolds.

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