Filme "Land" (2021), diretora Robin Wright.

Resenha do Filme Um Lugar (2021, Robin Wright)

Em sua primeira direção em um longa-metragem, “Um Lugar” (‘Land’) de 2021, a atriz Robin Wright (Claire Underwood de “House of Cards“) atua tanto atrás das câmeras como na frente delas. Ela nos conta através da sua visão e da sua interpretação uma história de sobrevivência e de confronto frente a dor do luto.


No filme Land, Edee Mathis (Robin Wright) é uma mãe de família que encontra-se dilacerada e quase afogada na dor do luto. Na busca de encontrar um novo sentido da vida e retomar à sua estrada, Edee resolve deixar para trás – se desconectar – da sua irmã Emma (Kim Dickens), sua terapeuta, sua cidade natal, seu smartphone e de qualquer contato humano para retirar-se em uma cabana localizada no meio de uma floresta, no alto da montanha, no interior do EUA.

É impressionante a forma intimista em que o tema é explorado ao longo do filme. Um Lugar (Land) compõe uma fotografia carregada da beleza natural canadense, cenário perfeito para a protagonista passar o seu tempo longe de tudo e de todos e assim poder enfrentar – e talvez superar – toda a dor depositada na raiz da alma. Há no roteiro alguns cortes abruptos, mas passa quase despercebido diante da mensagem que Um Lugar tem a nos narrar.

Edee Mathis (Robin Wright) preparando a terra para plantar uma horta
Edee Mathis (Robin Wright) preparando a terra no quintal da cabana para plantar e cultivar uma pequena horta

Já na cena inicial do filme nota-se, não por acaso, o reflexo dos olhos de Edee, estática, as lágrimas prestes a escorrer pelas maçãs do rosto, a expressão denota um olhar fixo e distante na areia que escorre dentro da ampulheta, em uma clara alusão à contagem regressiva, o que nos remete em um símbolo lógico do tempo em seu transcorrer.

Interpreto a cena descrita no parágrafo anterior de forma figurativa, como quando inocentemente pensamos ter a vida sobre controle, planejada, uma vez que simbolicamente a vida é como um punhado de grãos de areia que tentamos manter dentro das mãos.

Antes de Edee partir para o seu retiro, ela passa por uma sessão de terapia onde é questionada sobre o que está sentindo e o porquê de não compartilhar sua dor com as pessoas, nesse momento suas respostas mostram claramente que para ela é necessário o distanciamento das pessoas e de certa maneira para estar consigo mesma e assim poder confrontar sua dor e encontrar o sentido da vida.

Edee Mathis conversando com a terapeuta
Edee Mathis (Robin Wright) no divã conversando com a terapeuta sobre seus sentimentos e a dor do luto

Na cabana é perceptível a dificuldade inicial dela adaptar, sozinha, ao ambiente selvagem em que se encontra, sua ida para à montanha serve tanta para refletir sobre o momento de dor e luto; e, de forma paradoxal, distrair-se com a adaptação a uma rotina como caçar e plantar, contrária a tudo que ela viveu até então.

Todo o sofrimento que Edee passa diante do urso que invade a sua cabana e come todo seu estoque de comida enlatada, somado à falta de comida inesperada junto a forte tempestade de neve que a faz desmaiar transforma-se em metáfora ao nascimento de Edee à uma nova vida.

Um personagem importante no “renascimento” de Eddi é Miguel (Demián Bichir), responsável por mantê-la viva após desmaiar por estar fraca e com frio devido à impiedosa tempestade de neve. Foi ele que também ensinou ela a caçar e a sobreviver em meio à vida selvagem da montanha.

Ao longo da transformadora relação de amizade que se criou de maneira espontânea entre Edee e Miguel, nota-se uma certa ajuda mútua de um para com o outro, principalmente quando Miguel revela um certo remorso quanto a ser o responsável por gerar o luto e a dor que também carrega e confronta, mas em uma fase de superação bem mais avançada em comparação à sua nova amiga.

Miguel (Demián Bichir) e Edee (Robin Wright)
Miguel (Demián Bichir) e Edee (Robin Wright) sentados ao pé da árvore e conversando

Há momentos inesquecível vividos nos encontros de Edee e Miguel na cabana, destaco os vários momentos em que eles cantam a música “Everybody Wants to Rule the World“, da banda britânica dos anos 80, Tears for Fears. Uma letra que simbolizo o momento atual de ambos.

Outra cena simbólica é a “herança” que Miguel deixa em companhia da nova amiga, o seu cachorro Potter. Por último é quando Edee presenteia seu amigo com um desenho feito pelo seu filho e do qual ela guardava até então com tanta admiração, carinho e lembrança.

Já a caminho do final de Um Lugar, nota-se claramente a mudança na interação de Edee com as pessoas assim que ela chega à cidade doi seu novo amigo para visitá-lo. A coincidência trágica na vida pessoal dos dois sela um elo forte que agora só a morte é capaz de desfazer.

A última cena é uma das muitas ao longo da história que emocionam e que talvez concretiza uma real mudança tanto na aceitação quanto na adaptação frente à ausência das pessoas amadas que já se foram. Só o tempo e a ajuda daqueles que ficaram serão capazes de fazerem a terrível dor do luto se manter guardada em uma caixinha fechada no fundo da gaveta do coração.

NOTA: Nota do crítico - 5 estrelas (excelente!)

 

Trailer

Pôster
Pôster do filme "Um Lugar" (2021)

Curiosidades sobe Um Lugar

  • Inicialmente, Robin Wright foi escalada apenas como diretora, mas, devido a um problema de agenda, passou a estrelar também. Wright disse: “Tivemos um problema de cronograma e de tempo em que precisávamos rodar o filme em um período de tempo e só tínhamos 29 dias para isso. E não podíamos correr o risco de tentar conseguir alguém naquele período de tempo. Então os produtores disseram: “Bem, por que você não faz isso?”, e eu disse: “Bem, eu vou estar lá de qualquer maneira, então tudo bem”;
  • Estreia de Robin Wright na direção de um filme;
  • Robin Wright interpreta uma mulher que deixa a civilização para trás para viver sozinha na natureza. Seu ex-marido, Sean Penn, dirigiu o filme biográfico “Na Natureza Selvagem” (2007) sobre um homem que deixa a civilização para viver sozinho na natureza;
  • Produzido com a ajuda do Governo de Alberta, Alberta Media Fund;
  • Ação animal monitorada e certificada pelo Movie Animals Protected #002072;
  • Essa produção participou do Programa de Crédito de Pós-Produção do Escritório de Desenvolvimento de Filmes e Televisão do Governador do Estado de Nova York.

Ficha técnica

Diretor: Robin Wright.
Roteiro: Jesse Chatham e Erin Dignam.
Produtores: Joshua M. Cohen, Steven Farneth, Michael Frislev, Leah Holzer, Lora Kennedy, Chad Oakes, Eddie Rubin, Peter Saraf, John Sloss, Allyn Stewart, Marc Turtletaub, Kim H. Winther e Robin Wright.
Diretor de fotografia: Bobby Bukowski.
Editor: Anne McCabe e Mikkel E.G. Nielsen.
Design de produção: Trevor Smith.
Figurino: Kemal Harris.
Cabelo e maquiagem: Emma Andrus, Andrew Clements, Yvonne Cox, Madison Farwell, Gail Kennedy, Linda Nelson, Elizabeth Paradis, Shelley Russell, Amanda Rye, Kristy Smith, Jo-Dee Thomson, Amanda Tozser e David Trainor.
Música: Ben Sollee e Time for Three.
Elenco: Robin Wright, Demián Bichir, Sarah Dawn Pledge, Kim Dickens, Warren Christie, Finlay Wojtak-Hissong, Brad Leland, Jordan Bullchild, Dave Trimble, Rikki-Lyn Ward, Mia McDonald, Barb Mitchell, Dennis Corrie, Valerie Planche, Laura Yenga, Randolph West, Darin Grisdale, Darren Poirier, Thomas Komarniski, Shawn Loo, Edmund Gee, Maureen Bronner, Matthew Godden, Jordan Gooden, Vattanak Khun, Bud Klasky, Faith Louissaint, Travis Gordon Phillips, Mike Richards, Jill Maria Robinson, Daniel D’Angelo Sparks, Steve Tsang e Travis Willier.

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