Resenha do Filme À Espera do Amanhã (2019, Noble Jones)

Blythe Danner e John Lithgow interpretam personagens opostos em suas excentricidades, ela com o pé no passado e ele com a cabeça no futuro, enquanto o amor desabrocha no presente.


Ed Hemsler (John Lithgow) é um homem que vive um relacionamento distante com o filho, enquanto dá de comer à sua obsessão pelo futuro, ao estocar mantimentos em sua garagem secreta. Ronnie Meisner (Blythe Danner) é uma mulher em luto pela filha que morreu aos 13 anos de idade e que desde então vive no passado envolto num acúmulo de coisas. Solitários e vivendo em seus tempos distintos, ambos irão se relacionar e – quem sabe, através do amor – encontrar o caminho de volta à linha do tempo presente.

O filme “The Tomorrow Man” (“À Espera do Amanhã” ou, se preferir, “O Homem do Amanhã“, em tradução livre) nos coloca diante da vida monótona de Ed, muitas vezes sentado no sofá, assistindo e admirando a âncora do telejornal, sua ex-mulher; ou então pegamos uma carona em sua caminhonete Ford até o supermercado, cenário em que ele conhece Ronnie, logo é despertado um sentimento estacionado, o amor entre as duas almas solitárias é posto a engatar no estacionamento do estabelecimento.

Ronnie (Blythe Danner) e Ed (John Lithgow) se conhecendo
Meisner (Blythe Danner) e Ed Hemsler (John Lithgow) se conhecendo no estacionamento do supermercado

Logo em sua estreia na direção de um longa, Noble Jones se responsabiliza também pelo roteiro do drama e pela fotografia, competências técnicas bem aplicadas ao longo do filme. Noble Jones tem como base cinematográfica a mentoria do experiente diretor e produtor David Fincher.

O transcorrer do filme é calmo, mas incapaz de nos fazer cochilar um segundo se quer, muito pelo contrário, a sincronia na atuação do veterano casal de atores nos deixa atentos a cada diálogo, detalhes e troca de olhares. É gostoso acompanhar a construção do romance do casar sênior que em certos momentos, sob a embriaguez do amor, se deixam transparecer em seus comportamentos como dois jovens apaixonados.

Em contraposição à narrativa serena da história, encontra-se na ansiosa investida de Ed para cima de Ronnie – quase a transpor o limite da inconveniência. Entendo essa ansiedade devido a visão de Ed quanto ao tempo regressivo até o momento do desastre em que ele tem desenhado em seu mundo interior.

As perspectivas de ambos são opostas, característica percebi nas cenas em que adentramos na casa organizada de Ed Hemsler e na casa desorganizada de Ronnie Meisner. Mas o antagonismo não limita apenas na questão da organização, outro ponto divergente entre o casal de veteranos pauta na questão de como a vida é baseada, no sentido temporal, ela no passado, ele no futuro.

É uma pena que o filme concentra mais no gênero drama do que no gênero romance, o diretor Noble Jones torna o destino de Ed e Ronnie aquém do esperado quanto à relação amorosa na terceira idade. O romance não se esconde, mas parece padecer do combustível responsável em tornar lúcido tanto para eles, os protagonistas, quanto para você e eu, meros apreciadores da sétima arte.

Ronnie (Blythe Danner) desapegando às coisas
Ronnie (Blythe Danner) oferece um objeto pessoal para Ed (John Lithgow) colocar à venda em seu quintal

A questão eminente de um possível desastre, tão arraigada na mente do personagem de John Lithgow, deixa confundir, ou até mesmo isentar, o tema em que a trama se mostrou a narrar. O desapego às coisas, proposto por Ed e inicialmente relutado por Ronnie, faz com que ambos se desprendam do futuro e do passado para, finalmente, viver o presente, valorizando o amor entre eles, lado a lado, de mãos dadas a contemplar a explosão nuclear da vida.

NOTA: Nota do crítico: 4 estrelas (ótimo)

 

Trailer

Pôster

Pôster do Filme "À Espera do Amanhã" (2019)

Curiosidades sobre À Espera do Amanhã

  • John Lithgow nasceu em Rochester, NY, onde a maior parte do filme foi filmada;
  • Ao mostrar seu abrigo pela primeira vez, há 3 potes de Vegemite. Esta é uma pasta de extrato de levedura australiana (como a Marmite do Reino Unido) muito apreciada por alguns na Austrália, mas com sabor adquirido. Ele tem uma vida útil muito longa e um pouco já vale muito, então pode ser um dos favoritos dos “preparadores”;
  • No jantar de Ação de Graças, o Twilight Zone (No Limite da Realidade) é mencionado em uma conversa/argumento. John Lithgow estrelou um segmento do filme “No Limite da Realidade”, de 1983.

Ficha técnica

Diretor: Noble Jones.
Roteiro: Noble Jones.
Produtores: Nicolaas Bertelsen, Jennifer Dong, Avy Eschenasy, Figo Li, Jacob Xiaofeng Li, Tony Lipp, Joe Pirro, Luke Rivett, James Schamus e Emma Shan Wang.
Diretor de fotografia: Noble Jones.
Editor: Zimo Huang.
Design de produção: Patrick M. Sullivan Jr..
Figurino: Kerry Hennessy.
Cabelo e maquiagem: Kait Matlock, Lola Rivera e Lauren Wilde.
Música: Paul Leonard-Morgan.
Elenco: John Lithgow, Blythe Danner, Derek Cecil, Katie Aselton, Sophie Thatcher, Eve Harlow, Wendy Makkena, Isabelle Boni, Shawn M. Essler, Andrew Gonsalves, Ben Kruger, Anthony Lafornara, Jeff Moon, Richard Fike, Dennis Kleinman, David Chen, Tyler Aser, Liz Cameron, Gloria J. Dancause, Katherine Fudge, Jake Harrington, Michael Harrington, Naveen Havannavar, Jill Mack, Scott Matheny, Joe Napier, John Sindoni e Danielle Smith.

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