O filme Remédio Amargo vem em embalagem contendo uma cartela repleta de clichê sobre a temática relacionamento abusivo. É difícil de engolir, desce lento e provoca sonolência.
Logo no início do filme “Remédio Amargo” (El Practicante) a câmera do diretor Carles Torras enquadra o para-brisa de um carro capotado em que nele encontra-se um casal, a mulher chora desesperada enquanto a câmera gira lentamente e afasta o zoom até mostrar em primeiro plano o carro destruído de rodas para cima, ao fundo, em segundo plano, a ambulância com a sirene ligada se aproxima, dentro estão os paramédicos Ricardo Martín (Guillermo Pfening) e Ángel (Mario Casas).
Na cena do acidente descrito no parágrafo acima, vemos o protagonista Ángel salvar a vida de uma mulher, nesse ponto o diretor nos introduz um paradoxo quanto ao comportamento do personagem diante do relacionamento abusivo dele com a sua companheira, Vane (Déborah François).
Após os paramédicos deixarem o local de um segundo acidente, a ambulância é surpreendida ao ser colidida na lateral por um caminhão (na cena da batida há um erro de continuação). O acidente faz Ángel perder os movimentos da perna e cair sobre uma cadeira de rodas.
Ao sentar na cadeira de rodas, assistimos, em escala crescente, toda a fraqueza e covardia de Ángel. Esse comportamento vai além da debilidade emocional e psicológica dele. Nesse momento o diretor joga em cena um apanhado de situações já muito vistas em filmes cuja a temática do relacionamento abusivo do homem sobre a mulher encontra-se em sua trama desconfiança, traição, inocência, cárcere privado e até vizinho desconfiado.
Um quesito de bom gosto introduzido ao filme é quanto à música escolhida para Ángel tocar e abafar os gritos de socorro de Vane para que o vizinho Vicente (Celso Bugallo) não suspeite de nada. A música em questão é “Un Sorbito de Champagne“, de 1966, da banda espanhola “Los Brincos“. Essa canção teve uma versão gravada em português, interpretada pela banda brasileira “Os Incríveis“. “Um Sorriso Champagne” é a faixa #12 do álbum “Os Incríveis Neste Mundo Louco“, lançado em março de 1967 – um ano após a versão original em espanhol.
Em vários momentos de Remédio Amargo eu relacionei a obsessão doentia de posse de Ángel e a situação desesperadora de Vane ao filme “Encaixotando Helena” (1993, Jennifer Chambers Lynch), neste o nível doentio é mais pesado, pois para manter a mulher (Sherilyn Fenn) em sua posse e impossibilitada de qualquer tentativa de fuga, ela tem seus membros amputados pelo obsessivo cirurgião (Julian Sands).
O suspense vai escalando até que um previsível vacilo – vacilo aqui é um eufemismo – abre as partas para a liberdade. A cena da fuga até o desfecho é risível, ambos se arrastam como uma lesma fugindo de uma tartaruga por entre os corredores e escadarias do prédio.
E para finalizar a patacoada tentativa de fazer um terror psicológico, coube ao fim fazer o domínio do jogo inverter de lado, um dia da caça outro do caçador, aqui fica a seu critério escolher a frase de praxe que melhor resume o desejo de vingança patética.
NOTA:
Trailer
Pôster
Curiosidades do filme Remédio Amargo
Enquanto o personagem masculino principal está andando em um táxi, o noticiário do rádio diz o seguinte: “Na sexta-feira, 3 de janeiro de 2020. Aqui estão as notícias. A China notificou a OMS (Organização Mundial de Saúde) sobre os 44 casos documentados, 11 pacientes estão gravemente doentes, enquanto os outros 33 pacientes estão em condição estável. De acordo com informações da mídia chinesa, a causa pode ser um vírus que se originou em um mercado de animais vivos em Wuhan. Teme-se que possa ser um vírus respiratório semelhante ao SARS, ou Síndrome Respiratória Aguda Grave…”;
No início da sequência de créditos finais, quando eles estão rolando da parte inferior da tela para a parte superior, há duas margens emolduradas pelo corredor, em ambos os lados da tela. Ambos os lados das margens mostram marcas de medição de graduação que podem ser encontradas no corpo de uma seringa;
Para interpretar o papel de Angel, o ator Mario Casas passou por uma preparação rigorosa para emagrecer, seu regime incluiu treinamento físico para também ganhar músculo. Foram “queimados” 20 quilos em apenas cinco meses;
Para familiarizar-se com a profissão de seu personagem, paramédico, Casas fez um “laboratório” que incluiu trabalhar dentro de uma ambulância de verdade por algum tempo.
Ficha técnica
Diretor: Carles Torras.
Roteiro: Rebeca Arnal, David Desola, Hèctor Hernández Vicens e Carles Torras.
Produtores: Sergio Adrià, Santiago Lapeira, Adriana Martínez Barrón, Denis Pedregosa, Orlando Pedregosa, Jordi Roca Agut, Miguel Ruz e Carles Torras.
Diretor de fotografia: Juan Sebastián Vasquez.
Editor: Elena Ruiz e Emanuele Tiziani.
Design de produção: Sebastián Vogler.
Figurino: Alice Bocchi e Rosa Tharrats.
Cabelo e maquiagem: Maribel Bernales, Clara Domínguez, Karol Tornaria, Anna Álvarez de Sardi e Anna Álvarez.
Música: Santos Martínez.
Elenco: Mario Casas, Déborah François, Guillermo Pfening, Maria Rodríguez Soto, Celso Bugallo, Raúl Jiménez, Pol Monen, Alice Bocchi, Martin Bacigalupo, Gerard Oms, Tony Corvillo, Sara Ruiz, Linda Morselli, Andrea Marmolejo, Mercè Sánchez Camps, Laura Soto Carrasco, Sergio Adrià, Pau Escobar, Rodrigo Arnedo González, Pablo Álvarez Mármol, Ricardo David Barroca, Daniel Medina Serra, Amadís de Murga, Nuria Wheels, Xavier Teixidó, Judit Uriach, David Pallarés, Carles Torras, Jordi Cirbian, Misho Amoli, PlayCacao e Jaume Felip.
O novo filme produzido pela Netflix, The Old Guard, tem direção de Gina Prince-Bythewood e é uma adaptação da aclamada história em quadrinho homônima criada…
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