Filme "Longlegs: Vínculo Mortal" (2024), Osgood Perkins.

Resenha do filme Longlegs: Vínculo Mortal (2024, Osgood Perkins)

A história por trás do longa-metragem “Longlegs: Vínculo Mortal” segue a agente do FBI Lee Harker (Legal Monroe), logo após ser escalada para ajudar o seu chefe, o agente Carter (Blair Underwood), no caso de um impiedoso assassino em série de nome Longlegs (Nicolas Cage). O serial killer tem como modus operandi assassinar famílias por meio da confecção de bonecas carregadas com forças sobrenaturais satânicas que ao “adentrar” à casa de uma família (como um presente), o brinquedo induz o pai a assassinar cada pessoa da família, até se suicidar como ato final.


Diante dessas séries de assassinatos macabros, percebe-se que a personagem da agente Harker é uma pessoa sob uma aura obscura (um domínio), portadora de intuições mediúnicas que transcendem a percepção do caso em que ela está envolvida, estado esse que serve de atalho na corrida contra o tempo para revelar toda a verdade por trás do mistério sinistro que esconde as mortes e o verdadeiro assassino.

Outro fato curioso na personalidade introspectiva da protagonista é a estranha conexão pessoal com o suposto autor dos crimes impiedosos. Essa relação é vista nos flashbacks das memórias de infância de Harker, mostradas enquanto as pistas deixadas por Longlegs são decifradas. Esse encontro na infância pode ter jogado nela uma força oculta que a detém desde então, na vida adulta, sob uma espécie de maldição sobrenatural, a mesma que domina e inconscientemente faz com que pais de família cometam assassinatos brutais contra seus entes queridos.

Agente Lee Harker tem o olhar distante após ver uma bola retirada da cabeça de uma boneca.
Este é o olhar distante da agente Lee Harker após o médico legista analizar umas das bonecas feitas à mão por Longlegs e retirar de dentro da cabeça dela uma uma bola energizada (uma espécie de cérebro).

O mesmo estado comportamental visto no silêncio perturbador da agente Lee Harker, encontra-se ainda mais pungente à personalidade da mãe Ruth Harker (Alicia Witt), uma pessoa hermética que logo se nota a relação da psique presente com o passado tenebroso, manipulado pelo assassino sádico Longlegs. A interação da mãe e da filha com o estranho faz com que ambas arrastem uma herança maldita, onde a mãe sofre calada ao levar a morte para os lares para que a maldição residente em sua filha não cumpra com o seu objetivo demoníaco. 

Assim que as memórias de infância de Lee Harker vêm à tona, revela-se o porquê do antagonista ser chamado de Longlegs: pois diante da presença do homem adulto, a primeira imagem que a pequena Harker tinha em seu campo de visão frontal eram as “pernas longas” (tradução literal de ‘longlegs’) daquele ser pálido com o rosto digno de ter passado por inúmeras cirurgias plásticas malsucedidas.

Osgood Perkins tem um olhar astuto de direção, em seus enquadramentos abertos há muito mais em cena que somente a atuação do personagem. Esse plano aberto parece causar apreensão em meio aos mistérios escondidos por entre as sombras e à tensão à atmosfera sobrenatural que parece sufocar não só a personagem central, mas também os espectadores. 

A trilha sonora de Elvis Perkins caminha na mesma direção dos movimentos de câmeras de afastar ou aproximar lentamente do foco principal em que a cena retrata. Não se trata de uma técnica nova aplicada aos filmes de terror, quando utilizada com um propósito estabelecido contribui para despertar o mistério e o suspense àquela tomada. E nisso a técnica do diretor de fotografia Andres Arochi também tem o seu crédito garantido com a manipulação das cores e das luzes que dão peso ao ambiente do quadro.

Nota-se um clima de apreensão aos cenários em que a personagem se encontra sob o foco da luz, enquanto o espaço e as coisas à sua volta se escondem em um misto de penumbra e escuridão total, dando ao espectador a impressão de que a qualquer momento algo maligno vai surgir das trevas. É inteligente como o diretor “alimentou” a expectativa na revelação total da imagem excêntrica de Longlegs: as primeiras aparições do vilão acontecem sem que boa parte do seu rosto e membros inferiores apareçam no enquadramento.

É sutil, mas relevante para a marcação temporal, a maneira como a edição marcou as cenas do passado, assim que o filme corta para uma cena já ocorrida, como o primeiro encontro da pequena Lee Harker com Longlegs. Neste cenário bucólico e branco devido a cobertura em neve, a imagem aparece comprimida no formato de 16mm com bordas arredondadas. Assim que a cena é cortada para uma imagem com fundo vermelho e o título escrito em preto, a tela vai expandindo para o formato padrão do filme.

A agente Lee Harker chega à sala de interrogatório para confrontar o assustador Longlegs.
A agente Lee Harker entra na sala de interrogatório e caminha em direção ao assustador Longlegs. Sentado, ele a recebe em um sentimento doentio de surpresa por reencontrá-la, enquanto lágrimas escorrem sobre a face assustadora.

Impressiona muito o empenho do elenco diante do desafio de interpretar personagens de personalidades intrincadas e que demandam atores competentes em seu ofício, isso se comprova ao assistir Maika Monroe (agente Lee Harker), Alicia Witt (Ruth Harker), Kiernan Shipka (Carrie Anne Camera) e ele com o seu personagem-título Longlegs, Nicolas Cage.

O integrante da família Coppola, Nicolas Cage, empenha-se seguramente ao dar vida ao vilão Longlegs, um personagem subjetivamente (e visivelmente) marcado por traumas e vícios do passado que o levou a ter um comportamento perverso sob uma face do mal horripilante ao encarar. Não vou ser hipócrita de não elogiar a atuação expressiva do veterano ator, mas assim como o próprio filme (longe de ser ruim, vide nota), ao que assisti, acredito que todo o hype criado em torno de ambos (ator e filme) foi de uma “régua” não tão eloquente assim que assistí-los.

Acredito ter visto na interpretação de Maika Monroe um grau de dificuldade maior, pois ela dá vida a uma personagem que paradoxalmente encontra-se praticamente “sem vida” o filme todo, tendo que mover a sua investigação policial sob modo automático, mas com uma sensibilidade extraordinária sobre o caso. Aliás, a maioria dos personagens do filme “Longlegs: Vínculo Mortal” têm muito de esquesito escondido nas entrelinhas, visto com frequência na maneira de agir, por exemplo. Há sobre cada uma dessas pessoas uma confusão, o roteiro faz de tudo para explicar com detalhes como cada um chegou a esse ponto.

É notável o trabalho prestado pelo diretor e roteirista Osgood Perkins, que também é filho de Anthony Perkins, ator que viveu Norman Bates no filme “Psicose” (1960), de Alfred Hitchcock. Há passagens em “Longlegs: Vínculo Mortal” que se nota uma homenagem (ou inspiração) a filmes como “Silêncio dos Inocentes” (1991) e “Zodíaco” (2007). Drama, policial, suspense e terror são os gêneros que pavimentam o chão por onde passa esta história de horror que se embebeda de umas boas doses do terror psicológico e do terror sobrenatural.

Inté, se Deus quiser!

NOTA: Nota do crítico - 3 estrelas (regular)

 

Trailer

Pôster

Pôster do filme "Longlegs: Vínculo Mortal" (2024).

Curiosidade sobre Longlegs: Vínculo Mortal

  • Muitas das mensagens criptografadas de Longlegs contêm erros de ortografia e gramática após serem decodificadas. Essa é uma homenagem ao “Assassino do Zodíaco”, que também era conhecido por suas mensagens codificadas com erros de digitação, o que muitas vezes dificultava a decodificação da mensagem;
  • A solicitação de Osgood Perkins de não usar Nicolas Cage nos pôsteres ou no trailer, apesar de ele interpretar o personagem titular, levou a Neon a criar um plano criativo para promover e vender o filme sem depender de Cage;
  • Durante uma entrevista, Osgood Perkins relembrou uma história da produção em que soube que Nicolas Cage tem uma habilidade específica que, segundo ele, nenhum outro ator possui: a capacidade de reconhecer o quão alto ou baixo ele é capaz de falar sem bagunçar o áudio. De acordo com Perkins: “O cara do som veio até mim um dia… (ele) veio até mim alguns dias depois de Nic estar no set e disse: ‘Oz, nunca vi nada igual. Quando o Nic está no microfone, estou observando os mostradores, quando o Nic faz um som alto, ele vai “direto” para a linha. Qualquer coisa a mais, um ou dois decibéis acima disso, e seria difícil de usar. Depois, quando ele diminui, fica suave e sussurra e mal fala, ele vai direto para a linha. Qualquer coisa além dessa linha, você não conseguiria usá-lo. Ele sabe onde estão os limites. É a coisa mais louca que já vi em minha vida”;
  • Para promover o filme, a Neon criou um número de telefone (4586664355) que, se discado, reproduzia uma mensagem pré-gravada e extremamente perturbadora de Nicolas Cage como o assassino;
  • Apesar dos elogios e da aclamação de sua interpretação de Longlegs, Nicolas Cage declarou que essa será sua primeira e única interpretação de um assassino em série no cinema. Em uma entrevista à “IndieWire”, Cage disse: “Sei que o telefone vai tocar sem parar para interpretar assassinos em série depois de Longlegs. E isso não é realmente o que eu gosto de fazer. Não gosto de violência. Não quero interpretar pessoas que estão machucando pessoas”;
  • Longlegs cita o poema “Satan Says” de Sharon Olds em suas mensagens. Este poema é sobre uma garota trancada em uma caixa de cedro sendo informada por Satanás que ele pode tirá-la de lá se ela blasfemar contra sua família. Ela faz isso, mas Satanás a sela na caixa e a deixa lá;
  • Longlegs teve uma popular campanha de marketing nas mídias sociais, que se tornou viral e incluiu outdoors com nada além do número de telefone 458-666-4355, que levava a uma mensagem gravada do personagem titular dizendo “I’ll be waiting” (estarei esperando) se o número fosse ligado antes do lançamento, ou cantando “Happy Birthday” (feliz aniversário) se o número fosse ligado depois, uma série de vídeos curtos contendo cifras, uma série de imagens no Instagram, um site falso para os casos de assassinatos do filme, com fotos e detalhes do caso (site “thebirthdaymurders”) e um ARG (Alternate Reality Game, jogo de realidade alternativa) que exigia que os fãs usassem os itens acima para resolver quebra-cabeças e códigos para obter senhas para abrir arquivos para download;
  • Nicolas Cage e Osgood Perkins fizeram o filme como uma homenagem às suas mães;
  • O roteirista/diretor Osgood Perkins é filho de Anthony Perkins, o ator mais conhecido por interpretar Norman Bates em “Psicose” (1960) e suas três continuações;
  • Osgood Perkins pensou em apenas dois atores para interpretar Longlegs: Nicolas Cage ou Brad Pitt;
  • O filme teve um orçamento de menos de 10 milhões de dólares, que foi o que ganhou no dia da estreia;
  • O público-teste elogiou o desempenho de Nicolas Cage e mencionou que ele era tão desanimador que poderia assustar os espectadores;
  • Os créditos finais rolam para baixo em vez de para cima;
  • O primeiro trailer oficial foi intitulado “You’ve Got the Teeth of the Hydra Upon You”, e dois outros teasers foram chamados de “Dirty” e “Sweet”, todos referências à música “Bang a Gong (Get It On)”, de 1971, do T-Rex;
  • O livro “The Golden Bough: A Study in Magic and Religion”, de J. G. Frazer, é mostrado em muitas das cenas de crime. Trata-se de uma série de 12 volumes de textos antropológicos sobre as observações de práticas míticas e religiosas, tabus e cerimônias de todo o mundo;
  • O filme live-action de Nicolas Cage de maior bilheteria desde Motoqueiro “Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança” (2011);
  • O público-teste descreveu o filme como tendo imagens muito semelhantes a filmes como “O Silêncio dos Inocentes” (1991), “Zodíaco” (2007) e “Seven: Os Sete Crimes Capitais” (1995);
  • O espelho retrovisor do carro de Longlegs tem um abridor de garrafas no formato do signo do zodíaco Capricórnio, pendurado em um cordão. Esse é o signo do zodíaco para os nascidos de 22 de dezembro a 19 de janeiro, incluindo Harker, nascido em 14 de janeiro;
  • O Longlegs usa cifras de substituição de símbolos, cifras de substituição de números e uma cifra Vigenère (com a palavra-chave “Longlegs” para decodificar as mensagens);
  • Muitas bandas de rock são mencionadas nas notas de Longlegs, incluindo letras das bandas T-Rex e Tommy James and the Shondells;
  • A obra de arte do artista pop dos anos 80 Patrick Nagel pode ser vista no fundo de várias cenas, principalmente no quarto de infância de Lee Harker e na sala de jantar da residência dos Carter. Nenhuma razão é dada para isso e nenhum dos personagens olham diretamente para a arte;
  • Um trailer oficial de dois minutos precedeu “Guerra Civil” (2024) e “Fúria Primitiva” (2024) nos cinemas, mas não foi exibido em nenhum lugar on-line. Uma versão resumida de 1 minuto do trailer foi lançada logo depois pela Neon;
  • Longlegs compartilha temas satânicos semelhantes com o filme de estreia de Osgood Perkins, “A Enviada do Mal” (2015). A estrela desse filme, Kiernan Shipka, tem uma pequena participação especial neste filme;
  • O filme de terror independente de maior bilheteria desde “Sobrenatural: Capítulo 2” (2013);
  • A segunda colaboração entre Nicolas Cage e Neon após “Pig: A Vingança” (2021);
  • Superou “Eu, Tonya” (2017) como o filme Neon de maior bilheteria;
  • Em um cartão de aniversário decodificado no filme, lê-se “Stood upon the sands of the sea”. Essa é uma referência a Apocalipse 13:1 da Bíblia, que diz: “Vi, então, levantar-se do mar uma Fera que tinha dez chifres e sete cabeças; sobre os chifres, dez diademas; e nas suas cabeças, nomes blasfematórios.”;
  • O título russo do filme é traduzido como “Colecionador de Almas” (Soul Collector);
  • Apesar de Nicolas Cage interpretar Longlegs nem como mulher nem como homem, o personagem é masculino e explicitamente referido como ele ao longo do filme. As preocupações sobre o filme ser anti-trans são infundadas, conforme confirmado pelo diretor Osgood Perkins. Longlegs não é trans nem mesmo não-binário. Ele é um homem com uma aparência andrógina devido ao seu estilo inspirado no glam rock e às múltiplas cirurgias cosméticas;
  • Alicia Witt, que interpreta a mãe de Maika Monroe no filme, é 17 anos e nove meses mais velha que ela;
  • É possível ver a boneca Annabelle original em flashbacks entre a jovem Lee e sua mãe;
  • O agente Carter tinha bons motivos para amar os Mariners em 1995. Seattle superou um enorme déficit de divisão com os California Angels, empatando no final da temporada e forçando um play-off de um jogo. Eles chegaram aos play-offs e venceram uma série dramática contra o New York Yankees. Vencer Nova Iorque também convenceu os políticos estaduais e os residentes a reconsiderar uma nova medida de financiamento do estádio, permitindo aos Mariners permanecer em Seattle e levando à eventual construção do Safeco Park. Considerando que a temporada também começou tarde devido ao fim de uma greve de jogadores, Carter teria muito o que conversar, desde que encontrasse alguém interessado no esporte;
  • No início do filme, a agente Lee Harker está deitada no meio do chão, examinando o conteúdo das provas do caso. Ela havia tirado os sapatos, o que não estava previsto no roteiro. Maika Monroe fez isso porque seus pés estavam doendo;
  • A versão da Bíblia citada no filme é a King’s James Version;
  • A maquiagem e os trejeitos de Nicolas Cage para o filme têm alguma semelhança com a aparência de Marilyn Manson, que foi visto como um satanista durante os anos 90 e a maior parte dos anos 2000, e enfrentou escândalos por causa do comportamento predatório em relação às mulheres;
  • O visual andrógino de Longlegs foi comparado tanto a um homem do glam rock quanto a uma mulher idosa;
  • Apesar de o marketing do filme ter ocultado o rosto de Longlegs, ele foi revelado como sendo mais etéreo do que feio. Nicolas Cage declarou que esperava que o personagem fosse percebido como muito bonito;
  • Quando o triângulo de cabeça para baixo aparece na tela durante o teste de associação de Lee com o FBI, ela o rotula como “pai”. Esse triângulo é um símbolo que ela relaciona com Longlegs e, mais tarde, com Satanás. Isso também sugere que Lee está inconscientemente sob a influência de Satanás o tempo todo;
  • Uma criatura sombria, com chifres e semelhante a um bode, representando Satanás, está presente no filme dez vezes, principalmente quando o agente Harker está investigando os elementos satânicos dos crimes. As aparições da criatura foram planejadas para serem “subliminares” e não aparentes para o público. (1) quando Harker está atirado no chão revisando os arquivos do caso; (2) no bosque do lado de fora de sua cabana; (3) na cozinha, quando Harker está lendo o cartão deixado para ela por Longlegs; (4) no porão de Longlegs, perto da escada; (5) na janela entre duas estantes de livros, quando ela está investigando a biblioteca; (6) na pequena janela da porta de entrada dos fundos da cozinha; (7) durante o flashback do quarto de infância de Harker na porta (8) na janela do saguão do porão na casa da mãe de Harker; (9) no quarto dos filhos de Lee quando a mãe está revelando a história do fabricante de bonecas; (10) e no reflexo da porta da frente da casa dos Carter quando ela está sendo fechada no final do filme;
  • Maika Monroe foi mantida completamente no escuro sobre a transformação do co-astro Nicolas Cage como o serial killer titular, Longlegs, e nunca tinha visto Cage no personagem até filmarem sua infame cena de interrogatório, que também foi o último dia de Cage no set. Durante as filmagens, Monroe usou um microfone em sua camisa que, junto com seu diálogo, era sensível o suficiente para capturar também seus batimentos cardíacos. A taxa de repouso inicial de Monroe foi de 76 BPM. Quando a cena terminou, atingiu uma taxa de 170 BPM. O som de seus batimentos cardíacos em pânico foi usado em um trailer promocional final antes do lançamento do filme em 12 de julho. Em entrevista ao IndieWire, Monroe relembrou: “Foi uma loucura. Foi absolutamente insano!” ela disse. “Como você sabe, ele se transformou completamente. Não há nenhum vestígio de Nic ali, sua voz, seus maneirismos. Ele foi muito metódico nisso. Então estava no personagem, e é um personagem muito perturbador, para dizer o mínimo.”;
  • O filme se passa em 1995, durante os últimos anos da era do “Pânico Satânico” nos EUA. Esse foi um pânico moral que envolveu acusações generalizadas de abuso ritual satânico com base na teoria da memória recuperada: as pessoas estavam em pânico porque (1) cultos satânicos organizados estavam tendo crianças como alvo de abuso, (2) as crianças abusadas eram obrigadas a esquecer ou reprimir suas memórias do abuso satânico e (3) a ajuda de um terapeuta ou investigador era capaz de “recuperar” as memórias reprimidas das vítimas. A experiência de Lee Harker segue o padrão de pânico moral, pois ela foi forçada a esquecer suas memórias de ter sido alvo de um satanista, Longlegs, quando criança, e mais tarde recuperou essas memórias reprimidas com ajuda;
  • Quando Lee encontra Ruby pela primeira vez, ela está usando uma camisa com uma casa branca na frente. Isso faz alusão a uma cena mais adiante no filme, quando Longlegs fala que a casa da Camera Farm é branca, mas que a casa de Lee é a mais branca que ele já viu. Isso também prenuncia que Ruby será a última vítima de Longlegs;
  • O apelido do assassino em série, Longlegs, não é explicado no filme. Na verdade, trata-se de uma homenagem a uma antiga canção infantil chamada “Goosey Goosey Gander”, cuja publicação mais antiga foi no livro “Gammer Gurton’s Garland or The Nursery Parnassus”, publicado em Londres em 1784. Uma versão alternativa da cantiga de roda é conhecida como “Old Father Longlegs” (Velho Pai Pernas Longas) e é a seguinte: “Old father Long-Legs Can’t say his prayers: take him by the left leg, And throw him downstairs.” (O velho padre Pernas Longas não consegue fazer suas orações: pegue-o pela perna esquerda e jogue-o lá embaixo). A rima infantil refere-se aos buracos dos padres – esconderijos para padres católicos itinerantes durante as perseguições sob o reinado do Rei Henrique VIII, seus filhos Eduardo, Rainha Elizabeth e, mais tarde, sob Oliver Cromwell. Ao ser descoberto, o padre era retirado à força da casa (“jogado escada abaixo”) e torturado. A conexão da canção infantil com o filme é evidente, já que Lee parou de fazer suas orações no filme, Longlegs vive no porão de Ruth, que é onde Lee vai parar depois que Ruth destrói sua boneca, e a canção fala sobre a perseguição aos católicos;
  • Quando Lee entra na casa de sua mãe perto do final do filme, todos os três ponteiros do relógio sobre o arco foram ajustados para seis, outro exemplo do tema 666 que se repete ao longo do filme;
  • Em uma entrevista ao Deadline em 2024, Osgood Perkins falou sobre as motivações por trás da personagem de Alicia Witt: “A mamãe ursa fará o que tiver que fazer para proteger o bebê urso. É algo inato. É apenas biologia espiritual ou como você quiser chamar, é instintivo. E ela diz no final do filme: ‘Eu fiz isso por você, e isso faz com que seja certo’, e para ela, não há argumento em torno disso. É como se dissesse: ‘Eu tinha uma escolha. Eu poderia machucar um monte de gente ou deixar que você se machucasse’ e, para ela, não há escolha. Isso a torna ruim? Mais ou menos. Isso a torna também uma mãe ideal? Sem dúvida.”;
  • Embora seja chamado quase exclusivamente de “Longlegs”, o nome verdadeiro do assassino titular é dito uma vez na tela: Dale Ferdinand Kobble. Embora não seja explicitamente declarado, “Longlegs” refere-se a Dale em sua forma humana (na qual ele literalmente tem “pernas longas”), em oposição às “pernas curtas” das bonecas que ele imbui de energia satânica para realizar seus assassinatos;
  • Durante a cena inicial em que a agente Harker está sendo testada quanto a suas habilidades psíquicas, todas as suas respostas prenunciam aspectos do filme. Suas respostas incluem “Câmera” (guardando Polaroids que ela tirou quando criança, bem como o nome de uma família de vítimas), “Piano” (presente no quarto do jovem Lee e na cena dos assassinatos da câmera), “Mãe” (aludindo ao envolvimento de sua mãe nos crimes), “Pai” (o pai de Harker nunca é mencionado durante todo o filme, mas essa resposta corresponde ao triângulo invertido que representa 666, que também é o algoritmo para a seleção de vítimas) e “Tigre” (não é uma conexão direta, mas a cama de Longlegs tem muitos cobertores com estampas de animais);
  • Um reflexo do demônio pode ser visto depois que William Carter convida Lee para a festa de aniversário de Ruby;
  • A banda T. Rex aparece com destaque no filme. Em uma cena, Longlegs está dirigindo até a loja de ferragens enquanto ouve a música “Planet Queen” (1971), do T. Rex. A letra dessa música inclui a frase “Give me your daughter” (Dê-me sua filha), mas não ouvimos essa parte na cena;
  • Durante a primeira cena em que você vê o personagem de Nicolas Cage, se olhar para a frente, à esquerda, verá a capa do álbum “Transformer” de Lou Reed.

Ficha técnica

Diretores: Osgood Perkins.
Roteiro: Osgood Perkins.
Produtores: Laura Austin-Little, Fred Berger, Giuliana Bertuzzi, Andrea Bucko, Nicolas Cage, Dave Caplan, Jason Cloth, Liz Destro, Jonathan DuBois, Ronnie Exley, Chris Ferguson, John Friedberg, David Gendron, Dan Kagan, Brian Kavanaugh-Jones, Sean Krajewski, Andy Levine, Marlaina Mah, Lawrence Minicone, Christian Parkes, Tom Quinn, Jesse Savath, Teddy Schwarzman, Jason Wald e Laura Wheeler.
Diretor de fotografia: Andres Arochi.
Editor: Graham Fortin e Greg Ng.
Direção de arte: Brendan Megannety.
Figurino: Mica Kayde.
Cabelo e maquiagem: Cassandra Boos, Kristin Chaar, Jordan Crawford, Sheila Erdmann, Felix Fox, Madelaine Hermans, Keith Lau, Harlow MacFarlane, Werner Pretorius, Crissy Renaud, Laura Rodgers Murray e Pamela Warden.
Música: Elvis Perkins.
Elenco: Maika Monroe, Nicolas Cage, Blair Underwood, Alicia Witt, Michelle Choi-Lee, Dakota Daulby, Lauren Acala, Kiernan Shipka, Maila Hosie, Jason William Day, Lisa Chandler, Ava Kelders, Rryla McIntosh, Carmel Amit, Shafin Karim, Trey Helten, Daniel Bacon, Vanessa Walsh, Beatrix Perkins, Scott Nicholson, Peter Bryant, Charles Jarman, Hazel Bartlett-Sias, Marlea Cleveland, Melissa Shim, Malcolm Masters, Erin Boyes, Lumen Beltran, Anita Wittenberg, Michelle Cyr e Geoff Redknap.

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