Resenha do filme Estrada da Morte (1992, Craig R. Baxley)

Neste clássico filme para televisão intitulado “Estrada da Morte” tem em seu enredo uma história de suspense, baseada em fatos reais, centralizada na busca incansável de um pai pelo responsável em matar o seu filho, uma vez que a polícia acredita na hipótese de um acidente. A tragédia se dá pelo caminhão amarelo dirigido por seu motorista maluco, ao atropelar e matar o seu filho enquanto fazia a troca do pneu no acostamento da rodovia. A procura frenética pelas estradas e estações de caminhões demonstra o amor incondicional do pai ao filho.


Como a maioria dos filmes de estrada – os populares filmes do gênero “road movies” – o diretor Craig R. Baxley inicia a sua produção noventista “Estrada da Morte” (‘Revenge on the Highway’ ou ‘Silent Thunder’) com a típica cena onde ouve-se a voz do locutor ecoando pelos alto-falantes do carro, enquanto dentro do automóvel sobressai as vozes do motorista e sua companheira discutindo o jantar do feriado de Ação de Graças – neste caso específico -, ao mesmo tempo em que se apresenta ao espectador e à frente do carro do casal um caminhão rodando pela estrada em velocidade baixa com o motorista escondido à sombra da cabine.

A arma mortal utilizada neste telefilme dos anos 90 é um caminhão amarelo escuro com quatro faróis dianteiros; equipado com cavalo mecânico e uma carreta extensa, toda essa carga pesada rodando asfalto adentro em uma velocidade além do limite, sobre um total de 18 rodas, soltando baforadas densas de fumaça preta através do par de escapamento vertical imponente e amedrontador.

Isso que foi escrito até então, é o prelúdio perfeito para um filme de suspense que carrega em seu enredo elementos como morte, perseguição e a procura incansável de Claude Sams (Stacy Keach) até que a justiça seja feita contra o assassino responsável pela morte cruel do seu filho Paul Sams (Thomas Wilson Brown), de apenas 18 anos. Ao longo dos mais de 90 minutos, o filme “A Estrada da Morte” se baseia quase que inteiramente na busca do pai pelo caminhoneiro assassino de seu jovem filho.

Os caminhão branco de Claude Sams alcança o caminhão amarelo que persiste na fuga.
Claude Sams dirige em alta velocidade para alcançar e perseguir o caminhão amarelo que segue confiante em fuga perigosa pela estrada.

Antes que a tragédia familiar se instaure, um casal viajando em seu carro de passeio quase sofre uma batida frontal ao iniciar a ultrapassagem do caminhão amarelo em pista simples, depois de várias tentativas, e após o caminhoneiro acenar tráfego livre para ultrapassar pela pista contrária. A tragédia é evitada de forma repentina freando o veículo de maneira brusca – ação que consequentemente obriga o casal a jogar o carro para o acostamento salvando a vida de ambos. Isso por conta desse método malicioso praticado pelo motorista do caminhão que tem o prazer sádico de causar a morte de quem por azar encontre-o pelo caminho.

Assim que o vilão mostra para que veio, o diretor corta para a festa de casamento onde Claude Sams encontra-se nervoso devido ao atraso do padrinho, o seu filho. No meio de uma discussão acalorada entre pai e filho, este foge de imediato até a casa de um amigo e juntos seguem de carro estrada adentro rumo a Las Vegas, em busca de trabalho. Entretanto, no meio da viagem eles encontram o caminhão amarelo e investem uma ultrapassagem arriscada e carregada de tensão. No mesmo trajeto, os dois rapazes estacionam o carro no acostamento da estrada para Paul trocar o pneu furado, momento fatídico em que ele é atropelado e morto subitamente pelo mesmo caminhão truculento que horas atrás tiveram dificuldades ao ultrapassá-lo.

Desse momento em diante, Claude contacta o oficial Russel Yates (Tom Bower) para se atualizar sobre a investigação policial quanto a identificação do caminhão e principalmente do caminhoneiro responsável por arrancar de forma abrupta e covarde a vida do seu filho. Para o desespero do pai que trabalha como caminhoneiro, o policial informa que mesmo com toda a polícia rodoviária de Nevada e Las Vegas sabendo da descrição do caminhão, nada até o momento fora encontrado. Situação que leva Claude a investir por conta própria na procura pelo assassino montado em um caminhão amarelo escuro.

Além de ter que seguir a vida sem a presença do filho ao seu lado, Claude visivelmente carrega o fardo da culpa devido às críticas e acusações feitas ao filho quanto a ele estar mentindo sobre ter perdido as ferramentas e o acusando de tê-las vendido; além de chamá-lo de vagabundo por não dar valor às ferramentas dadas de presente e compradas com o suor de seu trabalho como caminhoneiro. A saída à estrada para ir de posto em posto à procura do assassino de seu filho, é motivada ainda mais depois de encontrar as ferramentas que o filho jurou ter perdido e após ouvir a fala do oficial Russel Yates de que o amigo do filho – que viajava em sua companhia no dia da tragédia – acabara de testemunhar que ambos iam para Las Vegas para procurarem emprego, uma das cobranças feitas por Claude ao filho.

O empenho de Claude pela busca do caminhão amarelo e seu condutor, cria uma distância da esposa Vi Sams (Lisa Banes), o que a faz se sentir sozinha e chateada, circunstância que ela confessa ao recém marido assim que testemunha ele no quarto carregando uma pistola. Mesmo com a ausência do marido e das amigas apoiando uma possível ideia de separação, a esposa se impõe diante delas e diz que mesmo chateada com a situação, ela acredita que a atitude de Claude é certa, que orgulha-se em ser sua esposa e finaliza dizendo que estará ao lado seu lado para o que vier. Duas cenas que mostram os valores morais do casal e o compromisso com a vida conjugal, independente das dificuldades a serem enfrentadas.

O filme é carregado de cenas que remetem a tensão tanto nas vezes que o caminhoneiro misterioso faz as suas vítimas, quanto à caçada de Claude. No entanto, o roteiro consegue equilibrar com cenas descontraídas do casal, tanto a sós, em momentos íntimos, quanto na companhia dos amigos. Em um desses passeios descontraídos com os mais próximos, na saída do estabelecimento, Claude acaba se deparando com um adesivo colado na tampa traseira da carroceria de uma caminhonete com a seguinte frase que o faz tirar o sorriso do rosto imediatamente: “Have you hugged your kid today?” (Você já abraçou o seu filho hoje?).

O ato derradeiro inicia-se logo após essa cena do adesivo com a frase que o deixa cabisbaixo – com remorso por talvez não ter dado atenção e carinho suficiente ao filho em vida. Em sua casa, Claude recebe uma ligação anônima, nela é marcado um encontro para falar sobre o filho morto. Na conversa presencial, o homem anônimo se sensibiliza e revela o apelido do motorista do caminhão (Python), o lugar onde costuma frequentar (The Den, em tradução livre O Covil) e alerta Claude sobre a inimizade que ele criou entre o pessoal dele – os caminhoneiros que fazem transportes clandestinos -, o mesmo grupo que Python pertence.

Claude Sams em pé com a arma em punho, encara de frente o caminhão amarelo onde está Python, ao fundo ele é observado por um policial.
De pé e armado, Claude Sams fica de frente com caminhão amarelo parado na estrada para encarar Python, ao fundo um oficial o observa fora da viatura.

É interessante salientar que no diálogo da cena descrita no parágrafo anterior, o delator revela ao pai da vítima que faz uso de rebite (droga psicoativa para aumentar a produtividade, conhecidas como anfetaminas) para aguentar dois dias e duas noites dirigindo. Assunto que revela uma crítica à história verídica em que “Estrada da Morte” se baseia e como um alerta a todos os envolvidos na profissão, onde infelizmente muitos desses profissionais da estrada até hoje fazem uso dessa e de outras drogas estimulantes para suportar as longas demandas sentados atrás do volante. Hábito nocivo à vida do próprio motorista e às vidas daqueles que transitam ao redor dele.

Ao longo da produção é notório a qualidade vista no trabalho dedicado à cinematografia liderada pelo diretor de fotografia John R. Leonetti. Os movimentos de câmeras são executados de maneira a proporcionar ao espectador toda veracidade da ação aplicada em cenas, tanto com os veículos leves quanto com os veículos pesados. Um importante fator técnico utilizado com destreza pela visão e mãos apuradas de Leonetti. 

Entre os atores, gostei do que assisti quanto a performance sólida de Stacy Keach sob o personagem Claude Sams. A atuação madura do ator suporta com méritos o seu protagonismo dentro do elenco, ele encara com competência as variações emocionais muitas vezes causadas pelas intempéries que o personagem passa e se propõe a enfrentar ao longo da história, o que inclui o distanciamento do filho, o remorso, a morte, a vingança e o relacionamento com a esposa.

A névoa que paira sobre a identidade do vilão por quase toda a história só é dissipada nos minutos finais, quando somos surpreendidos com a identidade daquele por trás do volante do caminhão amarelo, Sandahl Bergman. A surpresa é também pela atuação engessada e estereotipada que se encontra a vilã Python. Mesmo após a câmera enquadrá-la, a identidade da caminhoneira renegada é ainda quase que incógnita por parecer se esconder sob o boné trucker, por detrás dos óculos escuros de tamanho parecido ao da sua carreta e envolta na penumbra do estabelecimento.

Assim que os olhares deles se cruzam, inicia-se uma confusão que acaba na sequência de perseguição que gera um encontro violento entre os caminhões imponentes de Claude e Python, cena que entrega aos espectadores tomadas impressionantes da perseguição de impacto que carimba na tela o momento clímax do filme. O final dessa caça ao “rato” revela o caráter do homem Claude Sams frente a vida daquela pessoa que levou à morte o maior amor de um pai, o filho.

Os minutos finais revelam o casal Sams em visita à lápide de Paul, tranquilos com o dever de justiça feita e finalmente o descanso eterno do filho. Claude deixa uma mensagem ao espectador por meio de um ato simples, mas emocionante, ao colar o adesivo contendo a frase que mais uma vez merece ser traduzida para o português: “Você já abraçou o seu filho hoje?”

Inté, se Deus quiser!

NOTA: Nota do crítico: 4 estrelas (ótimo)

 

Trailer

Pôster

Pôster do filme "Estrada da Morte" (1992)

Curiosidades sobre Estrada da Morte

  • Foi baseado em uma história verdadeira;
  • Este filme foi dedicado à memória de Claude e Paul Sams;
  • Em 1992, o Governo Federal aprovou um projeto de lei aumentando o rigor nas normas de segurança dos transportes de carga;
  • A data de lançamento do filme nos Estados Unidos da América foi dia 6 de dezembro de 1992;
  • Filmado no Novo México por Arvin Kaufman Productions em associação com Saban Entertainment;
  • Slogan de “Estrada da Morte”: “A dangerous road. A son’s murder. And a father who won’t rest until justice is done.” (‘Uma estrada perigosa. O assassinato de um filho. E um pai que não descansará até que a justiça seja feita’).

Ficha técnica

Diretor: Craig R. Baxley.
Roteiro: Dennis Shryack e Michael Blodgett.
Produtores: Jay Benson, Michael Blodgett, Arvin Kaufman, Lance H. Robbins e Dennis Shryack.
Diretor de fotografia: John R. Leonetti.
Editor: Richard Bracken.
Design de produção: Philip Leonard.
Figurino: Lynette Bernay.
Cabelo e maquiagem: Margaux L.Lancaster e Mark Schatzman.
Música: Shuki Levy.
Elenco: Stacy Keach, Lisa Banes, Tom Bower, Thomas Wilson Brown, Dwier Brown, Lenore Kasdorf, Deborah Mansy, Tym Thurston, Dennis Hayden, Sandahl Bergman, Matthew Hotsinpiller, Luce Rains, Damu King, Jake Walker, Sam Gauny, Brad Leland, Forrest Broadley, Angella M. Sorrells, Suzanne Lederer, Hanley Smith, Carole Tru Foster, Tom Connor, Suzanne Sena, Nicholas Ballas, Ben Zeller, Fredrick Lopez, Kim Blacklock, Forrest Fyre, Cliff Gravel e Tymotha Thurston.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima