Esta resenha crítica é sobre um daqueles filmes em que os personagens – ou personagem – de início parecem ser o que são, que a carapuça lhes vestem justa como uma luva? Então, o filme “Frio nos Ossos” (Little Bone Lodge, 2023) tem disso e mais um acréscimo dos clichês espalhados em outros roteiros, que se revelam aos poucos junto à verdadeira face por detrás da máscara.
Na produção tutelada pelo diretor Matthias Hoene, somos inseridos na escuridão de uma noite tempestuosa, derrocada até uma casa de fazenda isolada e rodeada por campos e montanhas onde nela habita uma suposta família de 3 pessoas – a mãe (Joely Richardson), o pai (Roger Ajogbe)e a filha, Maisy (Sadie Soverall) – que se encontram em comemoração ao aniversário do pai, este sentado em uma cadeira de rodas em estado de letargia.
O clima até então de comemoração e alegria se transforma em tensão após uma sequência de batidas à porta, seguida por gritos desesperados de socorro de um criminoso em companhia do comparsa, seu irmão gravemente ferido após fugir da cena do crime.
Pela ligeira sinopse, acredito que você tenha pensado com seus botões em uma possível continuidade da trama, seguida de uma situação em que a família torna-se refém dos “irmãos metralhas”. A situação imaginável se materializa, até então nada difícil de prever, não é? Mas… calma, como dizia uma clássica chamada de um programa lá do início dos anos 90: “Senta que lá vem história”. Espere que até a palavra FIM rolar solitária tela acima, surpresas e reviravoltas vão acontecer neste suspense.
No enredo de “Frio nos Ossos” nada de diferente do que você já tenha assistido em produções anteriores acontece. No entanto, a fórmula aplicada ao roteiro pode agradar grande parcela dos fãs do gênero, uma vez que o roteirista Neil Linpow não ousa arriscar-se fora da quentinha zona de conforto, não troca o seco pelo molhado (o trocadilho é só para combinar com o clima chuvoso caindo ao longo do filme).
Desde o primeiro minuto do filme, o diretor nos joga uma pista óbvia (destaque abaixo) do personagem central em que a trama será desenvolvida. Trata-se de uma descrição do filme para o substantivo feminino “Mãe”, narrado em off pela voz da suposta filha da matriarca. Muito dessas características parecem descrever uma possível personalidade da Mama (Joely Richardson). Será?
“Dizem que mãe é o nome de Deus escrito nos lábios e nos corações de todas as crianças. Ela pode ser gloriosa ou terrível, benevolente ou cheia de ódio. Ela vai lutar contras os monstros com as garras de um lobo e os dentes de um dragão. E amar com uma ferocidade nunca vista. O dever dela é proteger. A qualquer custo. E se alguém chegar a machucar sua família, nem dá para imaginar do que ela seria capaz.”
Já o pai da história aparece sentado na cadeira de rodas com uma aparência característica de alguém que está embotado, esta situação é possível quando a câmera foca para uma fotografia em que pai e filha aparecem enquadradas em pé, sem a presença da mãe ao lado deles. Estranho. No minuto seguinte, a mulher (mãe) tira de uma bandeja com seringas e agulhas uma unidade e aplica no homem (pai), mais um sinal colocado em cena que leva a crer que a situação em que se encontra a saúde do pai de família é causada de propósito.
A partir do momento em que os irmãos criminosos dão os primeiros passos dentro da residência da família para receberem a ajuda que precisam, a fisionomia dos três (mãe, pai e filha) mudam em um misto de desconfiança, medo e esperança. A habilidade da mãe diante do machucado grave de um dos irmãos feridos é um forte indício para justificar o que será revelado em cena posterior, esta também trará à tona a origem do material utilizado no presente de aniversário recebido pelo pai.
Em certa altura, o roteiro engata uma onda de reviravoltas que deixam qualquer um boiando diante dos clichês temperados com as ordinárias ações que parecem nascer com os personagens comumente vistos em filmes de suspense, terror e policial. Segue na rabeira dos plot twists as revelações até então escondidas, elas fazem com que o nosso queixo caia, em algumas podemos cair na risada.
Os irmãos Jack (Neil Linpow) e Matty (Harry Cadby) parecem aproveitar a água da chuva que cai sobre a calha da casa para “lavar roupa suja”, os momentos em que essas discussões se dão deixa o clima ainda mais apreensivo. As duras palavras direcionadas a Matty pelo seu irmão, manifesta no jovem um sentimento filial frente à mamãe da casa, o que perdura nos momentos finais em que desembocam em diversos confrontos.
O desfecho final faz com que tudo volte a estaca zero, o que deixa interrogado uma futura sequência para “Frio nos Ossos”. Esta é uma produção de qualidade mediana com uma certa tendência negativa que pode muito agradar uns e decepcionar outros. Caso queira, pode ser uma opção para assistir sem grandes pretensões, mas que pode empolgar. Provavelmente caia bem dar o play em uma daquelas tardes chuvosas de domingo. Aproveite e boa sessão da tarde!
Inté, se Deus quiser!
NOTA:
Trailer
Pôster
Ficha técnica
Diretor: Matthias Hoene.
Roteiro: Neil Linpow.
Produtores: Peter Bevan, Nicholas Chow, Simon Crowe, Leonora Darby, Matthew Joynes, Mark Lane, Melissa Massey e Mariana Sanjurjo.
Diretor de fotografia: Job Reineke.
Editor: Niles Howard.
Design de produção: Nuha Mekki.
Figurino: Coline Bach.
Cabelo e maquiagem: Bridget Gardiner, Genesis Low, Chelsea Murphy e Christine Nicklin-Rivett.
Música: Christopher Carmichael.
Elenco: Joely Richardson, Neil Linpow, Sadie Soverall, Harry Cadby, Roger Ajogbe, Euan Bennet, Cameron Jack, Jamie Melrose, Clifford Samuel e Sharon Young.
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